Zara Zerou

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Reprodução: Filme Olhares sobre o racismo

O código da Zara para informar aos funcionários quando pessoas negras entram na loja

Você preto, preta, pelo amor de Deus, para de dar dinheiro pra Zara, irmão. Os maluco têm um código pra avisar que você tá entrando na loja e acredite: eles vão dar um jeito de te incriminar por algo, de te maltratar, de te fazer vilão, bandido. Já que colocar fogo, não rola, pelo menos pare de dar seu dinheiro a essa rede racista, xenofóbica, que se usa de mão de obra escrava hoje, em 2022.

Zara zerou foi o código que levou a loja a acusar de furto um jovem negro, da Guiné-Bissau, imigrante vivendo em São Francisco do Conde, na Bahia. O rapaz, Luiz Fernandes Júnior, de 28 anos, é mestrando da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

28 de dezembro de 2021: Luiz foi acusado por uma atendente da loja e por um segurança do Shopping da Bahia de furtar uma mochila de R$ 329. QUE ELE HAVIA COMPRADO. Mermão, o rapaz foi abordado por um segurança no banheiro. Provou que havia pago pelo produto e mesmo assim foi levado de volta à loja.

Só que dessa vez, eles se deram mal, mano. Porque o Luiz, diferente da maioria da nós que não tem acessos, que prefere só ir embora e não voltar mais, que prefere esquecer o que se passou toda vez que é vítima de racismo, Luiz registrou boletim de ocorrência por injúria racial e meteu advogado em cima da Zara.

Deu ruim pra Zara. O caso repercutiu a ponto de a própria marca oferecer um acordo extrajudicial ao rapaz que, segundo o advogado da vítumia, Thiago Thobias, foi surpreendente por ter acontecido em tempo recorde e com indenização à “parte ofendida em um valor superior ao que a Justiça brasileira costuma arbitrar”.

Acontece que essa não é a única ação movida contra a Zara. Tem outra que corre em Fortaleza, como ação coletiva proposta pela Educafro. E aí o bagulho fica ruim pa Zara. O diretor executivo da entidade, Frei David Santos, diz que esse “é um processo por danos coletivos, pois foram causados danos não somente aos indivíduos, mas a toda a comunidade negra”. Sabe de onde vem essa ação? Daquele caso da delegada negra que foi impedida de entrar na Zara em Fortaleza.

Se liga, Zara: começou e só vai crescer. A gente cada vez mais vai parar de levar desaforo pra casa. E a gente vai se unir cada vez mais. E vai ter cada vez mais advogados pretos pra defender seu povo. E vocês vão começar a pagar essa conta. E a gente vai fazer barulho e vai doer no bolso de vocês. E a gente vai eleger pretos. E a gente vai ter poder. E aí, aí, Zara… aí cês vão respeitar a gente, queiram ou não.

“Racistas não passarão”. A cada dia, eu confio mais nessa frase.

Ps.: A Zara diz que o código não existe. ATA.

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