Vidas indígenas importam

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Isabella Kariri @bellakariri

Gostaríamos saber quanto vale uma vida indígena, quantos hectares de terra, quantos territórios, quantos povos, quantas mortes, abuso físico, psicológico e sexual; quanto sangue mais precisa ser derramado para a sociedade se comover? Os 522 anos de invasão, apagamento, etnocídio, colonização, destruição de terras e genocídio de povos inteiros não foram o suficiente? 

Quando a pandemia chegou, já imaginávamos que os povos indígenas seriam os mais prejudicados, no que se refere a políticas públicas em prol de assistência médica e proteção às suas vidas. Desde a má coleta de dados e descaso com os altos índices de casos pela Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). Naquele momento de fragilidade mundial, os garimpeiros e grileiros de terras se aproveitaram para invadir e se expandir pelos territórios originários, levando consigo o vírus, a destruição e uma carta de óbito para mais um parente indígena.

O racismo institucional que assola esses povos é fruto da colonização, que ainda paira sobre o Brasil. Todas essas dificuldades são agravadas quando se tem um governo descaradamente racista; um governo que apoia a invasão de terras, retirada de povos, e não somente apoia, como pretende legalizar o garimpo e limitar a demarcação – de acordo com o PL 490/2007, que institui o “Marco Temporal”, em que os indígenas teriam que comprovar estar naquela terra antes da promulgação da Constituição, a retomada deste Projeto de Lei (PL) fragiliza a demarcação que já não ocorre desde o início do mandato de Bolsonaro.

A demarcação de terras indígenas é uma forma de fazer valer a Constituição de 1988, ainda não houve na história do Brasil um presidente que estivesse comprometido a fazer demarcação. Entretanto, nunca se houve também um presidente com política anti-indígenas, em apenas 2 anos de governo Bolsonaro, as poucas terras que ainda lhe restam, sofreram um crescimento de 137% de invasões, e o número de assassinato cresceu 61%, de 2019 a 2020 – segundo o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, 2020.

O Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorreu este ano entre os dias 4 e 14 de abril, em Brasília, foi a 18º edição e teve como objetivo escrachar as suas bandeiras de luta “Demarcação já!” e contra os Projetos de Lei (PL) de morte que circulam pelo Senado e Câmara, tais como: 191/2020, que libera a exploração de minérios em terras indígenas; PL 6.299/2002, que amplia o registro de agrotóxicos; os PLs 2.633/2020 e 510/2021 que regularizam a grilagem de terras e o PL 3.729/2004, que anula a necessidade de licenciamentos ambientais.

Estamos diante de um genocídio a céu aberto sobre o povo Yanomami, e nada acontece. Tudo segue normal. Cadê os defensores da vida; cadê os defensores da família; cadê os missionários!? Não há normalidade no Brasil. Os povos originários merecem respeito, dignidade, demarcação e, principalmente, merecem ter o direito à vida resguardado. 

Sonho em poder ver a sua pele tingida de urucum e não de sangue.

Reprodução de imagem / Isabella Kariri @bellakariri

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