Raul Seixas é Mediocre. Ed Motta está errado?

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Ed Motta virou assunto nas redes, again. Mas, ele tá errado ou nós que estamos mega emocionados?

Ed Motta disse que Raul Seixas é medíocre.

Foi numa de suas lives em seu novo canal no Youtube, que aliás, tá crescendo. Ele tem migrado seu conteúdo audiovisual do Instagram pro Youtube, porque no Youtube há mais possibilidades técnicas de áudio e vídeo, inserção de janelas, monetização e busca. É, sem dúvida, uma plataforma muito melhor.

Acontece que eu respeito todo mundo, o fã de Raul Seixas, o fã de Coltrane. É importante dizer: Ed Motta não se colocou como o oposto-formidável ao Seixas, ele falou Ornette Coleman. Ele falou Stevie Wonder, veja bem, o cara não está se colocando acima de Seixas, ele comparou o trabalho técnico de Seixas aos de outros músicos.

E em 2022 vocês precisam ser mais adultos. Ed, errado, não tá. Do ponto de vista técnico, não está.

A música de Raul é tecnicamente pobre, simplória e de mau gosto. Isso não significa que não seja popular. Veja os sertanejos. Uma merda. Mas popular. Gente, Marinada e Maionese é uma merda. Sismaria e Lombrária. SeisGoiano e SeteUm. Essas dupla, que serve essencialmente pra LAVAR DINHEIRO DE TRÁFICO E ARMAS no país Goiás e Mato Grosso. São uma merda, criada pra ser soundtrack de goiano bêbado com cachaça que rasga a garganta como se fosse um gato sendo arrastado pra um buraco de cobra, monte de gente metendo sem camisinha, em pé do lado da caminhonete, GERANDO MAIS CRIANÇA, ou seja, BOTANDO MAIS GENTE AMANTE DE FIVELA DE CINTO FALSIFICADO DA GUCCI no mundo. Bagulho de amante que não tem lar, que amante nunca vai casar. O reflexo de uma cultura, um pano de chão, encardido, sujo e cheio de água de banheiro de rodoviária, espremido, a alma encardida, de onde pinga racismo, Bolsonaro, misoginia e ódio.

E olha que eu venho de morro, de favela, onde temos funk putaria, que manda todo mundo mamar, que tu tá com saudade da mandioca, que teu butico é meu tobogã, essas coisa. A diferença entre um carioca e um goiano é apenas uma: a gente sabe rir do fato de ser um lixo. O goiano faz de si mesmo uma projeção um tanto quanto heróica. Não é uma comparação entre um goiano e um carioca do morro. É um fato: carioca não vale nada, mas pelo menos consegue escrever uma crônica.

Daí os emocionado dizer que Raul é o pai do rock br, que ele tá canonizado no Hell’s Angels Motoclube de Belford Roxo, é dizer que aquele salafrário do Falamansa é o pai do forró. Lembra do Falamansa? Viado do sel. Como eu tenho ódio real, profundo e jorrante daquele sujeito picareta. Picareta, musicalmente. Mas é sobre isso, né?

Nem Dominguinhos, ainda novo, no colegial, na fase mais comercial da vida, ou bêbado, jogado na sarjeta da história, era medíocre igual Falamansa. É o mesmo que pegar o Ferrugem (agradeça a Deus se você não faz a menor ideia de quem estou falando) e colocar ele ao lado de Candeia, de Beto Sem Braço, de Almir Guineto (ore a Deus se você não fizer a menor ideia de quem eu estou falando). Até a Lexa, que é uma genérica Dolly da Anitta, consegue ser a mediocridade no âmbito da mediocridade musical, mesmo considerando que Anitta é pelo menos autêntica em diversas frentes que abriu sozinha.

Amizade, mete na cabeça. Esse pessoal: Raul Seixas, Renato Russo, Bob Dylan…é o seguinte.

A pessoa, em duas aulas de violão, já consegue tocar uma música, esse troço não presta musicalmente. Em duas aulas você não toca um Cartola nem por um caralho. Não toca, porra, não toca, em duas aulas, um Stevie Wonder. Nem se baixar um Chico Xavier. Não toca. Hein. Stevie Wonder, cego, sem dormir há 90 dias, com fome, com sede, senta num piano todo sujo de merda debaixo do Viaduto de Irajá e tira um Higher Ground. VOCÊ não faz isso, nem se eu ficar atrás de você empurrando uma tora de marshmallow no teu rabo, aquele marshmallow quentinho, docinho, aconchegante, e mordendo teu pescoço, esfregando meu peito cabiludo nas tuas costas e sussurrando uma progressão harmônica de Cory Henry, nem assim você faz uma introdução de Stevie Wonder. Nem o primeiro acorde. Nada.

Duas aulas de flauta doce tu não toca Giant Steps. Nem em 100 aulas. Até porque nem a flauta doce dá conta de Giant Steps, entende? Coltrane olhava pra flauta doce como Chacrinha olha pro programa do Monark. Um lixo. Um troço amador, mambembe, puto, vagabundo, miserável, chinelagem.

Mas na primeira de flauta doce, tu toca “eu nasci, há 10 mil anos atrás”, que tem 5, 7 notas numa melodia arcaica e 2 acordes. Isso é um fato técnico, queridos.

Não significa que eles não tenham o carisma pra serem teus artistas preferidos. Eu acho Roberto Carlos um atentado contra o Ocidente. Saca, a OTAN tinha que ir na Urca, invadir aquele apartamento do Roberto Carlos, que não bota gasolina no Porshe, o cara tem um Porshe pra andar três quarteirões na Urca, porque se for no Catete vagabundo lava ele na porrada e carrega o carro, e ainda assim o safadonauta não bota gasolina no caralho do carro. O Porshe do Roberto Carlos parando o trânsito na Urca porque não tinha gasolina, vai tomar nesse buraco de cagar, seus obsediado. Como que um cara desses, quem disse que esse cara era rei, meu amigo. Vate pa merda.

Ah, porque é nosso Sinatra.
Qual o teu problema comigo, meu irmão?
Ah, porque o Rock é sobre isso mesmo, simples, e PASSANDO A MENSAGEM. Que mensagem?
Oi, pessoas brancas, tá tudo bem não usar desodorante.
Essa mensagem?
Ah, porque o Ed Motta se inspira em música negra estadunidense, MAS O ROCK É ORIGINALMENTE MÚSICA NEGRA ESTADUNIDENSE, criançada de Satanás.
Eu queria ir atrás de cada um de vocês com um bambu, daqueles de pegar pipa, e dar com ele na dobra dos dedo que tu usa pra escrever isso no celular.

E tem mais.
Quem chama rock de medíocre, feito pra ser medíocre nunca viu Jimmy Hendrix tocar. Nunca viu Robert Glasper tocando Nirvana. O sangue escorre do nariz num acorde que ele faz ali perto de 1:53. O Kanye West e o Pharrell Williams, ambos do pop americando, dançando ao som de Tudo Que Você Podia Ser, de Milton Nascimento, e tu me dizendo que a parada é ser medíocre.

Eu acho que tem uma pitada de pacto de branquitude aí, saca.
Pega a “obra” de Seixas e joga no corpo de uma pessoa negra, eu DUVIDO que vocês vejam da mesma forma. Ou o fato de ser um homem negro mexendo com o teu artista gênio branco. Os caras chamam Ed de elitista, curioso. Ed fala que pegava o 433, o Ed é o suco do subúrbio, caralho. Ele é o homem negro que vocês NÃO ESTÃO PRONTOS PRA ACEITAR. Eu nem ia meter essa.

Chamam o cara de tudo que é nome, mas o cara tá jogando verdade aí. O padrão cultural do brasileiro médio é medíocre. Aí o cara, preto, vem da Zona Norte do Rio, sabe falar de cinema, de música, de vinho, caviar, batata palha, e vocês não suporta uma caralha dessa. Sei que Ed foi no Viaduto de Madureira e lá recebemos ele como um Deus, man. Ed é nosso, seus filho da puta.
Vocês não tão pronto pro black proud, seus vagabundo.

Agora, respeito você gostar de Bob Dylan? Apesar de eu não ter interesse no que esse cara faz? Ok. Só não venha me pedir opinião sobre o que tecnicamente ele representa. Que aí o pau tora.
Dizer que Ed se resume em Manoel fala mais sobre a forma putaria que você conduz a sua vida, que sobre ele. Cês não sobrevivem a duas faixas de Entre e Ouça. Porque vocês são uns vagabundo, que ouve vagabundo, e acha que a vagabundagem é o grande destino da humanidade. O mundo acabou em 1952.

Porra, mas o Ed poderia não ter dito.
Poderia não ter dito? Não sei. Em 2022, tanta coisa tá sendo dita. Além do mais, ninguém de vocês passa o dia ouvindo Raul, para de drama. Eu não diria pra não criar conflito com os emocionado da minha página, mas fodace. Se eu acordar e não tiver PIX rolando, eu meto a vara em Jorge Vercillo, Kenny G, eu faço você voltar pra casa traumatizado.

Raul é musicalmente pobre. Foi estrategicamente produzido pra ser um artista brasileiro no mainstream. Mas até aí, Michel Teló também foi.

O fato é que, errado, Ed não tá.

Verdades que doem no Brasil de 2022.
Por isso, inclusive, que Ciro Gomes não vai ser eleito.
Porque vocês não sabem lidar com crítica a Seixas e a Lula.
Peraí, bicho.

Anderson França

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