Essa semana eu comecei, pela primeira vez, a me exercitar em casa porque me dei conta que me movimentar realmente é algo muito importante pra minha saúde mental. Então comprei caneleiras de peso e halteres, e comecei hoje a usá-los, de forma leve, sem me forçar muito, pra ir me acostumando com os movimentos que eu ainda me lembro das aulas de alongamento e ginástica localizada que fiz ao longo da minha vida.

Pra falar a verdade eu tenho verdadeiro horror a qualquer atividade física, e isso infelizmente é influenciado por toda a gordofobia que eu sofri ao longo da minha vida nesses ambientes, desde a aula de educação física na escola até qualquer academia que eu frequentasse. Parece que esporte era uma coisa proibida pra gordos. Eu já era perdedora sem nem tentar. Ninguém me escolhia pra time algum e já me diziam logo de cara que eu não seria capaz de praticar nenhum esporte. Correr? Nunca foi possibilidade. Jogar basquete? Handebol? Nunca levei a sério, eu achava que pra praticar qualquer coisa eu tinha que emagrecer, e mesmo assim, eu nunca seria boa como as magras. E assim eu fui me afastando de toda e qualquer prática física, muitas vezes por medo, e na maior parte das vezes, por vergonha. Eu nem sabia que eu podia tentar. Assim, deixei de praticar duas coisas que amo e admiro muito: capoeira e skate. E sabe, sinto te decepcionar, mas não tem final feliz aqui ainda, eu sigo me restringindo de esportes e deixando de fazer coisas por vergonha. Hoje, aos 36 anos, mesmo que muitíssimo bem resolvida com o meu corpo, jamais teria “coragem” de me iniciar nessas duas coisas.

Então, eu era boa nos patins, mas isso sempre foi meio um hobby, um negócio que eu sabia fazer muito bem, mas que nem imaginava que poderia ser um esporte. Porque eu cresci com essa noção muito louca de que praticar esporte tinha que estar ligado a emagrecer. Sempre. E com essa noção de que o meu corpo era feio, errado, defeituoso e fraco. E esse tipo de corpo não nasceu pro esporte.

Hoje eu entendo a prática do exercício e do esporte como uma parte do meu cuidado com a minha saúde mental. É preciso movimentar o corpo para movimentar as engrenagens, as juntas, articulações, melhorar a circulação e assim me sentir viva. E com a depressão, muitas vezes, eu me sinto morta.
E eu hoje, como ex-suicida (pessoa que não vive mais com ideações suicidas), adquiri um medo muito engraçado durante a pandemia: o medo de morrer. Cara, eu morro de medo de morrer antes de fazer tudo que quero fazer. RISOS Porra, eu tenho muita coisa pra falar ainda, mermã. Então, por isso, eu comprei esses apetrechos e comecei a me exercitar em casa.

Agora, o que eu queria contar mesmo é que quando eu tava com as caneleiras de peso, me senti quase que quebrando uma grande regra, sabe? Porque em todas as aulas que eu fiz, se tinha uma coisa que era proibida pra mim eram as caneleiras de peso. As professoras sempre falavam nas aulas de ginástica: “todo mundo pega caneleira! ”. Mas a mim diziam: “Você não, que senão engrossa a perna”. E eu acatava, nunca questionei. Nunca entendi que problema era aquele de engrossar as minhas pernas grossas, mas como eu já entendia o meu corpo como errado eu só aceitava. Era gordofobia e eu nem me dava conta.
Hoje tô aqui, com as minhas caneleiras de três quilos, engrossando as minhas grossíssimas e maravilhosas pernas que vocês tanto temiam.
(risos maléficos de vingança da autoestima)
Seu corpo pode tudo. Não deixe que ninguém te diga do que você é capaz.
É só isso que eu queria dizer.