Para quem nunca foi a escolhida

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Na escola, eu nunca fui escolhida a mais bonita ou inteligente da sala, sempre fui a melhor amiga da escolhida. Eu só fui destaque dentro de casa. Minha vó, que me criou, pois meus pais precisavam trabalhar, sempre exigiu de mim a perfeição.

Mesmo que minha vó esticasse ou trançasse meu cabelo impecavelmente ou cuidasse do uniforme, lavando o à mão no tanque, ou até sem ter terminado a escola, ter me ensinado a memorizar a tabuada e a escrever com letra bonita. Nada disso importava: no fundo ela sabia, não importava o quanto eu fosse boa, eu sempre precisaria ser o dobro para ser notada.

Na minha adolescência, enfim comecei a ser vista, e seria o meu momento glória, depois de tanto tempo, sendo invisível para as paqueras e vivendo nas sombras das minhas amigas brancas.

Mas como eu disse: seria! Não foi! O olhar sobre mim não era para mim, pessoa, e sim como um objeto descartável. Era o mesmo olhar do senhorzinho que estuprou e descartou minhas ancestrais. E foi esse olhar que me fez alvo, precocemente. Fadada a ser hipersexualizada em quase todas as relações.

E esta realidade não é somente minha: é das minhas irmãs pretas que, por tantas vezes, foram resumidas a seus corpos. Vovó, como toda mãe preta, já previa isto e o quanto eu precisaria agir com perfeição para que minha voz fosse ouvida e respeitada.

Enquanto isso, ainda escuto umas “manas” que vêm com seu privilégio branco falar de sororidade. Não existe essa de sororidade com mulheres brancas e pretas! Enquanto a luta de vocês hoje pauta os seios à mostra, a nossa ainda é pelo mínimo: ser respeitada, ouvida e amada.

E assim, a gente segue com o psicológico ferrado, mas com sede de tomar o mundo, não somente por nós mas para honrar quem veio antes e abrir caminho pras que virão depois!

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