O preço da soja vale mais que uma vida 

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Quando se discorre acerca da insegurança alimentar no Brasil, pode-se analisar um conjunto sistêmico impregnado no sistema político do país.

No dia 9 de fevereiro de 2022, foi aprovado o Pacote Veneno, um Projeto de Lei (PL 6299/2002) que não somente libera, como escracha o uso desenfreado de agrotóxicos no país, concede maior autonomia ao Ministério da Agricultura e Pecuária, abre margem para grileiros de terra e para o garimpo ilegal; por 301 a 150 votos o projeto foi aprovado na Câmara e aguarda votação no Senado. Cabe ressaltar que, desde o início do governo Bolsonaro, foram liberados mais de 1.500 agrotóxicos, sendo 641 somente no ano de 2021.

No dia 9 de março, houve o Ato pela Terra, onde Caetano Veloso e mais 40 artistas ao lado de lideranças indígenas e quilombolas foram ao Congresso Nacional pedindo para que o Senado derrube o “Pacote da Destruição” – projetos de lei que visam o lucro, a destruição do meio ambiente e a morte. Dentre outras barbáries, tem-se também o PL 191/2020 que tende a legalizar a exploração mineral em terras indígenas: mais um claro panorama das políticas anti-indígenas fomentadas pelo governo Bolsonaro.

O desmonte do maior programa de distribuição de renda do país, o Bolsa Família – criado em 2003, no governo Lula, com o programa “Fome Zero”, reconhecido internacionalmente, submete a população a um abismo no que compõe a insegurança alimentar, agravada pelo contexto pandêmico. Então soma-se 116,8 milhões de brasileiros reféns desta situação, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

Em contrapartida, o Brasil lidera o ranking de maior exportador de grãos e carne bovina do mundo – de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. A pergunta que paira no ar é: “A quem favorece a maior produção de alimentos?”. A soja é o pilar da agropecuária, tendo a sua produção baseada na apropriação de terras indígenas, destruição de biomas e ecossistemas, desmatamento, contaminação do solo e uso excessivo de água. Em contexto, 79% da soja é destinada, predominantemente, à ração animal.

O Governo defende e incentiva tais pensamentos e medidas, pois dentro do mercado financeiro é o mais rentável para grandes empresários. Entretanto, cabe analisar que, o preço de tamanhas atrocidades recai sobre a classe oprimida e mais vulnerável economicamente, a mesma população que é conduzida a enfrentar filas para consumir aquilo que lhes sobra desta indústria: ossos. O uso descontrolado de agrotóxicos irá aumentar o índice de devastação ambiental, além de corromper a saúde da população, pois são um agravante para a incidência de câncer, descontrole hormonal e aumenta a chance de má formação de feto em pessoas grávidas.

A fome no Brasil não é uma questão isolada: é um projeto político de governo. As desigualdades latentes da sociedade são reafirmadas diante de um cenário de crise. Neste momento, cabe avaliar as conotações das políticas públicas a fim de parear o agravante da questão social. A existência de políticas agroecológicas, como o PL 6.670 – que busca a redução do uso de agrotóxicos e visa um estímulo à transição orgânica e agroecológica, são boicotadas diante do cenário de um lucro, em defasagens do meio ambiente e da população.

Assine a petição contra esse PL de morte: https://www.chegadeagrotoxicos.org.br/  

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