O inimigo mora aqui

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Eu sei: cada um decide o que lhe toca ou dói. Eu é que sei do que me fere. Mas eu vou bater de novo na tecla da seletividade. Porque a gente tem uma memória muito curta. Vou me explicar melhor: estou assistindo aos noticiários europeus e brasileiros o dia todo. Há dias. Duas TVs na redação. Uma em canal da Orópa, outra, do Brazil. E daí que, aparentemente, nada mais acontece no Brasil. Na Europa também. Mas me cabe falar de Brasil.

Enquanto estão passando o caos na Ucrânia, as mortes, a dor, o sofrimento das crianças, ninguém tá olhando pro próprio umbigo: pro Brasil.

Petrópolis já foi esquecida. Morreram mais de duas centenas de pessoas, entre elas, 42 crianças. Ainda existem desaparecidos. Entre as crianças que não morreram, tem um número enorme e ainda incerto que perdeu todos os familiares. Filhos sem pais; netos sem avós. Foram arrastados pra debaixo de um monte de escombros. E lá, suas memórias são rapidamente esquecidas por pessoas que agora estão preocupadas com a Ucrânia.

E tô com uma dúvida: covid, acabou?

Veja: eu não estou dizendo que você não tem que se preocupar e orar pela Ucrânia.

O que não dá, é pra fechar os olhos pra o que rola ao nosso lado, na nossa porta, dentro de casa, muitas vezes. Tá ali a Globo News com jornalistas emocionados mostrando as mães com crianças fugindo da Ucrânia, enquanto os pais foram lutar (e tudo bem se compadecer disso), mas cadê a comoção com as nossas crianças, com as nossas mães, com as mulheres daqui que continuam sendo vítimas de tudo: da violência, do desemprego, da fome, do feminicídio…

E mais: é 2022, minha gente. Não se distraiam de uma coisa fundamental: é ano de eleições. Enquanto a gente tá colocando nossos olhos e energia na Ucrânia, Bolsonaro tá em folga de carnaval no Guarujá. Viagem que teve início praticamente no mesmo dia em que se soube que ele gastou 900 mil dos cofres públicos na viagem de férias, aquelas que ele tirou quando a Bahia estava chorando a morte de dezenas de pessoas pelas chuvas.

Inflação segue em dois dígitos, desemprego também. 

Quer orar por Ucrânia? Tudo bem! Mesmo! Mas não se esqueça: o nosso maior inimigo, não mora ao lado. Ele tá aqui. E agindo.

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