Monark, e o advento do crime-nerd.

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Neste episódio de Monark e Flow PodCast, e a defesa do nazismo sob a bandeira da “liberdade de expressão”, tiramos várias lições, eu pego a visão dessa maneira:

  1. A reação da comunidade judaica
  2. A importância do poder – um poder só respeita outro poder
  3. O modelo que possibilita que um Monark se monetize
  4. A geração de gamers-influencers
  5. O universo gamer e a relação com os chans
  6. O projeto de poder da extrema-direita com os jovens gamers

Perceba o seguinte: Monark, em 24 horas, teve a vida pública aniquilada. Não se trata de “cancelamento”. Ele seria aniquilado em 2022 ou em 1959. Depois da Segunda Guerra, uma pessoa pública que defende o que Monark defende será sumariamente aniquilada, porque estamos falando aqui de um movimento liderado por Hitler, que levou o mundo para o abismo onde morreram 77 milhões de pessoas, destes, 6 milhões de judeus, em câmaras de gás, campos de concentração e icinerados em fornos.

Nós não estamos falando de uma ideologia que conviva bem com a diversidade, mas com uma ideologia política que PRECISA se fundar na PUREZA RACIAL, antes de qualquer outra coisa.

A coisa mais importante no nazismo NÃO É a economia. Não é a política. Não é o desenvolvimento industrial. É A RAÇA BRANCA. A supremacia definitiva da raça branca e tudo que ela elege como sua cultura única e intransferível.

Por que se você não nasceu branco, você jamais servirá para o nazismo, ou o neonazismo. Razão pela qual eu simplesmente não entendo como é que podem existir neonazistas na América Latina e no Brasil, onde somos majoritariamente mestiços – PELOS PRÓPRIOS NEONAZI EUROPEUS – que são simplesmente OS CARAS QUE INVENTARAM O NAZISMO.

Se o nazismo tem a ver com raça BRANCA, e territorialmente européia, e EXCLUSIVAMENTE européia, como pode um féla da puta brasileiro defender essa caralha, e ainda querer ter um partido nazista no Brasil, ONDE É A PORRA DE UM CRIME TER ESSA IDEOLOGIA, porque, leia o primeiro parágrafo, os caras, por conta dessa loucura racial, fizeram o mundo pagar uma conta que custou 77 milhões de vidas.

É pouco?

Pra Monark, ao menos no dia em que ele defendeu a ideia, parecia que sim.

A comunidade judaica não brinca numa hora dessas. As associações, sinagogas, representantes, comerciantes, industriais, políticos, juristas, atores, cantores, todos reagem em uma só voz, porque eles, em sua maioria, tem antepassados mortos por essa ideologia.

Mas a comunidade judaica tem mais poder que a comunidade negra.
Poder este conquistado com lutas, e com alguns projetos indenizatórios do pós-guerra.

O povo negro no Brasil, não tem nada disso.
Se compararmos as duas comunidades, veremos que a judaica está anos luz à frente da comunidade negra. E até hoje, o Ocidente não falou em reparação patrimonial ou indenização a este povo, capturado, torturado, morto e escravizado por 400 anos.

Nós temos uma dívida com a comunidade judaica? Sim.
E com o povo negro? Temos. E uma dívida sequer assumida.

Por isso, devemos lutar pelo poder do povo negro. O Brasil não será um país enquanto esse poder não for plenamente conquistado. Porque Monark tava bem num dia, e no outro, tava sentindo que o Mossad, o serviço secreto de Israel, ia sair de debaixo da cama dele pra ajustar contas. O nome disso: poder. Brancos só vão respeitar negros, quando estes se organizarem para ter poder. Um poder só respeita outro poder.

Para além disso, nós devemos pressionar marcas e plataformas. Porque, como um sujeito tão despreparado como Monark conseguiu ganhar tanto dinheiro, visibilidade e seguidores? Que modelo é esse que premia a superficialidade, os conceitos polêmicos, as pessoas medíocres? Nós precisamos questionar o modelo das marcas, das plataformas. Isso não está sendo contributivo pra sociedade.

E os gamers migraram do Twitch para o Youtube e para a celebridade. Casimiro é aplaudido como o maior fenômeno da internet. EU vejo Casimiro. Mas o conteúdo do cara é comentar o que outras pessoas produziram. Que seja simples, que seja simplório, mas a origem desses caras é o universo gamer. E aí mora o perigo, não por ele ser gamer, mas por ele – e outros, não se pronunciarem claramente sobre os chans. Porque eles fazem conteúdos para os jovens gamers, eles não podem negar isso. Mas eles, se não fazem parte dos chans, SABEM QUE ISSO EXISTE.

Os chans são fóruns onde todos permanecem anônimos. Os sites são sediados em países como Malásia, onde é dificílimo descobrir qualquer informação que possibilite investigar um criminoso digital.

Foram nos chans que ameçaram Lola, Jean, eu e muitos outros. Nos chans, foram encorajados atentados como o de Realengo e o da igreja em Campinas. No Dogola Chan ofereceram 40 mil reais pra me assassinarem em Paraty, em 2017. Marcelo Mello, fundador do Dogola, está preso. Mas existem centenas de outros em atividade.

E eles são um braço político da extrema-direita.
Ao observarmos as falas de Allan dos Santos (Terça Livre e foragido), Carlos e Eduardo Bolsonaro, identificamos ali a dicção dos grupos de chans. O modus operandi dos bullyings virtuais contra outros políticos, jornalistas, mulheres, é tudo tão idêntico ao que lemos nos chans, que eu cogito a participação dos filhos do presidente nesses grupos. Até porque, em 2017, esses chans criaram o Bolsocoin, uma criptomoeda feita para apoiar Bolsonaro. E o filho mais novo do presidente é gamer, fazia stream na Twitch e foi expulso da plataforma por produzir conteúdo racista. Gente, para. Eduardo Bolsonaro fazia foto com bandeira dos supremacistas brancos. Trump, invasão do Capitólio, ameaça ao STF, alôu, ativa a memória, amado.

Alexandre de Morais pegou a visão disso tudo. Ele tá chegando super junto dessa estrutura, e que se mantém ativa. A crueldade, o bullying, o ódio, o Gabinete do Ódio, é tudo a ascenção e o advento da cultura nerd-criminosa.

Os adolescentes que passavam o dia batendo punheta e jogando, agora são adultos, como Monark, que tem 31 anos, e eles optam por discursos que Bolsonaro defende.

E é um ambiente tão desconectado da realidade, tão ignorante, que esse tipo de fala, vestida de liberdade de expressão, vira pensamento filosófico na boca de um influencer.

Tava bêbado?

Não.
É um projeto de poder. Os que odeiam gays, judeus, negros e mulheres são youtubers e podcasters famosos. E você tá dando like neles, enriquecendo e cavando a nossa própria cova.

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