Eu sentei pra tomar um café, nesse domingo de manhã, em Lisboa.

Quatro anos aqui, e já conheço a cidade como a palma da minha neurose.

Eu tomei decisões de ouvir minha própria voz esses dias, porque conclui que estava me iludindo ao ouvir os outros. Eu estou sozinho. E a condição de imigrante acentua muito isso, todos os dias.

Nessa, vim tomar um café, antes de começar o InstaChurch, e só levei chinelada na cara da voz de dentro.

Se eu pudesse te dar um conselho, eu não posso, mas se pudesse, eu diria pra você ouvir a voz de dentro. Ninguém te conhece mais que você. E só você pode dizer seus limites. Sair de relacionamentos que não te dão nada em troca, só sugam, só te culpam.

O que mais pesa, não veio na mala.

A saudade.

Porque em 2011, na Maré, eu estava numa sala com outras 40 pessoas de favelas, todas incríveis. Uma geração que fez muito pelo Rio, e continua fazendo. Ali estavam Rene Silva, Raull Santiago, Cadu Barcellos, tanta gente importante.

Era a ESPOCC. Escola Popular de Comunicação Crítica, um projeto do Observatório de Favelas.

Ali, eu não me sentia sozinho. Eu tinha esperança, amigos, utopias. Hoje, eu estou mesmo sozinho. Sem amigos, sem abraços que eu dava e recebia na favela onde morei, Vila Aliança, e nas que passei.

Vim sem escolhas. Desci na casa do opressor e encontrei um velho decadente. Sem ouro, sem saúde, sem alegria. Roubou tanto, pra acabar nas trevas.

Me tornei mais objetivo.

Trabalho, escrevo, pra por comida no prato, meu e de outras pessoas.

Mas não vieram na mala os abraços que fazem falta agora. Eu só queria que o Brasil voltasse pro rumo. Que parassem de destruir o Brasil. Nós não merecemos um fim tão doído. Tão solitário. Eu não queria estar aqui chorando pra dentro, a 10 mil quilômetros de vocês.

Eu espero que todos, um dia, voltem.

E eu, ali, mais um na multidão de regressados, pra ter um país de novo. Em paz.