Era uma casa muito engraçada…

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casa

Essa mania de romantizar sofrimento ou condições que estão longe de ser as ideais, isso me dá uma aflição, cara! “Idosa entregadora de Uber Eats”: aon, tão linda <3; “Adolescente pega três conduções e anda 20km pra chegar à escola”: “caramba, quanta dedicação! <3; A DO DIA: “Morar em 27 metros quadrados, a nova tendência que cabe na realidade de São Paulo”: ai, é bom que é fácil de limpar + nossa, tão bom não pagar mais aluguel! + [insira aqui a romantização que você quiser].

Porque ok que as pessoas que vivem nesse tipo de imóvel são solteiras ou casais jovens; ok que realmente você limpa a casa num instante; ok que talvez isso te permita viver mais perto do trabalho; ok, ok, ok. Mas gente, vamos lá: eu já vivi num espaço de 30 m². Não me venham dizer que é bom, porque não é. Você mal pode se mexer dentro de casa. Não consegue receber um amigo pra tomar uma cerveja. Não dá pra deixar um calçado fora do lugar. E, não bastasse, geral tá de home office, “ô seje”, trabalhando nessa mesma lata de sardinha. Na boa, não tem vida maneira dentro de uma caixa de fósforos.

Só que a gente tá refém do mercado imobiliário, bando de urubu se aproveitando do fato de que o estado tá comendo nosso “coro” de todos os lados. O transporte continua caro, o metro quadrado tá mais caro que nunca, e os problemas de habitação continuam a existir. Sem contar que, daqui a pouco, essa pessoa que vive na caixa de fósforo, pode ter família e não caber mais ali. Aí vira o ciclo do: vou ter um aluguel pra ajudar nas despesas. E vai a bola de neve engolindo todo mundo.

É por isso que tanta gente quer fugir do BR, meu! E eu reflito isso, inclusive, enquanto imigrante. Porque a verdade, é que, ao menos aqui em Portugal, tem imigrante pra caramba vivendo dentro de um quarto, por vezes, com bem menos que os tais 27 m². 

Esse texto não tem a intenção de dizer: essa é a solução do problema. Infelizmente. Só queria mesmo que a gente refletisse sobre a romantização da desgraça que tá sendo ser brasileiro em 2021 e parasse de normalizar essas merdas.

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