“Como a escolha de times nas aulas de educação física pode deixar traumas nas crianças”, dizia uma reportagem do G1.

Fiquei lembrando.

A educação física era meu terror no colégio. A hora que eu menos gostava da escola, aquela hora em que ninguém me escolhia pro time e eu ficava ali parada, com cara de idiota, me sentindo tão completamente descartável e desnecessária. Quem mandou ser gorda, né?

Eu não era boa em nenhum esporte e o meu colégio parecia aqueles colégios americanos em que só são populares as pessoas boas em esportes. Uma vez eu fiz um gol no handebol e a melhor atleta da turma me disse que tinha sido “cagada”. Meus colegas de turma brigavam pra não me ter em seus times e muitas vezes, eu me escondia do professor pra fugir da aula. Eu me sentia uma merda que não era boa em nada. Teve uma fase que os professores resolveram dar ginástica olímpica pra turma, e eu quase quebrei o pescoço quando fui obrigada (em pânico) a plantar bananeira durante uma aula, na frente da turma inteirinha, claro. Ninguém queria me ensinar, ninguém queria que eu aprendesse, eu só não servia pra nada mesmo. As provas na barra fixa, por exemplo, valiam menos se você tivesse ajuda da professora, aí no dia da prova ela fez questão de anunciar para a turma: “a prova da Lídia vai ser com ajuda mas não vai valer menos porque ela está acima do peso”. Nunca me esqueci dessas palavras. Depois, até me descobri na ginástica rítmica porque tinha a ver com música e dança, e eu era boa nisso. Cheguei inclusive a ganhar competições na escola, embora isso nunca tenha sido suficiente pra me fazer sentir bem, muito menos pra ser melhor vista.

O que eu quero dizer é que: até hoje, todo dia, em alguma escola, isso continua acontecendo. Alguma criança gorda se odeia por isso, e talvez até queira morrer pelo mesmo motivo, como eu quis. As pessoas continuam vendo o corpo gordo como incapaz, doente e preguiçoso.

E hoje aconteceu no bbb, igualzinho. Prova do líder de resistência: “formem suas duplas”!

Ninguém escolheu o único gordo do elenco, óbvio. Aquele a quem tinham prometido tantas parcerias.

Único gordo do elenco. De todos os elencos. Sempre. Por que será, não é mesmo? 

Tristão.