Descabelando o palhaço

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Olha, vim escrever esse texto, não como jornalista, mas como pessoa que menstrua, por acaso, mulher cis. Pessoa que observa o patriarcado. Então, não esperem grandes análises políticas e econômicas, o papo aqui é outro.

Na moral, eu num tenho nem decoro pra escrever sobre isso. Mas preciso me manifestar.

Cara, os homi branco, né? Como se a gente não tivesse que se preocupar em nos matarem, nos estuprarem, nos agredirem, não se preocuparem com o nosso prazer, com o fato de termos menos direitos, menos liberdade e tudo o mais na vida, ainda temos que conviver com um governo que se preocupa mais em comprar viagra pros milico do que em distribuir absorvente gratuitamente.

Porque em outubro do ano passado o zé bonitin amorzinho (um querido) que tá no governo vetou o projeto do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual do Congresso que distribuía absorventes gratuitamente, vetando inclusive a definição das beneficiárias do programa, como estudantes de baixa renda matriculadas em escolas públicas, mulheres em situação de rua, em situação de vulnerabilidade social extrema, além de detentas e internadas em unidades por cumprimento de medida socioeducativa. Depois foi obrigado a analisar tudo correndo por pressão do Congresso e do Ministério da Saúde, e ainda quis anunciar numa cerimônia do Dia da Mulher o próprio decreto, que sequer estava concluído, pra ficar bem na fita e dizer que as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”. É pra tirar uma com a nossa cara, né? Só pode.

Mermã, aí vamo voltar aqui pros 35 mil comprimidos de Viagra pras Forças Armadas, fora os 3,5 milhões e meio de reais gastos em próteses penianas: que que é isso, gente, a base do patriarcalismo e do governo bolsobosta? Bolsobosta falou que isso né nada não. Coisa pouca. Que preocupação é essa tamanha com as piroca?

Eu achei isso tão simbólico. Porque não é só no governo. É na nossa vida que isso tá presente o tempo todo. É desde o não chupar a gente e não se preocupar com o nosso prazer, passando pela perda de direitos civis e básicos, até essa esfregação de piroca na nossa cara que é o gasto desse dinheiro todo com os milico brocha. Num país de gente passando fome, num país em que pessoas que menstruam não têm seu direito mais básico, que é o de ter absorvente.

Olha, francamente, eu nem sei mais o que dizer. Nem o ódio mais me preenche, é tristeza, é desesperança, é falta de enxergar a luz no fim do túnel.

Agora, o que os brocha num sabem é que pau duro, assim como pau grande, nunca garantiu sexo bom. É isso que eles ainda não entenderam.

E que gostar de comer buçanhas não é necessariamente gostar de mulheres. Isso já tá bem compreensível pra mim, tanto na vida sexual, quanto neste governo.

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