Desastre em Recife: isso também é racismo

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Foto: PEDRO DE PAULA/CÓDIGO19/ / Estadão

Mais uma tragédia, dessa vez, em Recife. Maio não tem sido um mês fácil: chacina na Vila Cruzeiro, homem assassinado em uma câmara de gás improvisada pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) e, até o momento, 91 vítimas fatais em decorrência das fortes chuvas em Recife. Além de 26 pessoas desaparecidas segundo atualização do Corpo de Bombeiros na manhã desta segunda-feira (30).

Todos esses casos mencionados estão ligados por uma única palavra: racismo. Obviamente que chuvas são fenômenos naturais que ninguém consegue controlar, no entanto, não é estranho que esse “fenômeno” ocorra ano após ano atingindo majoritariamente pessoas negras? Considerando que a população preta e parda saiu das senzalas e atualmente ocupa grande parte das periferias.

Com fenômeno quero dizer que não há um plano ou política pública que adote medidas de proteção que, de fato, sejam eficazes para proteger a população que habita nas áreas de riscos. O modo de proceder das autoridades, que deveriam ser responsáveis e elaborar um planejamento eficaz, é sempre o mesmo: lamentar as perdas.

No entanto, não são lamentações que impedirão que vidas sejam perdidas, em sua maioria pessoas negras. O extermínio dessa população, do meu povo é um projeto real. Alguns irão dizer que “agora tudo é racismo”. Não, caros(as) leitores, o racismo não é de agora. Além disso, as vidas perdidas por causa das chuvas que aconteceram em Recife é racismo. Racismo ambiental para ser mais específica.

As construções em áreas de riscos, como morros e encostas, estão diretamente associadas à falta de políticas públicas de assistência social para a população negra, uma vez que, após a abolição da escravatura, o povo saiu sem emprego e sem direito à moradia. E esse problema ainda persiste nos tempos atuais, dado que o crescimento da população em favelas aumenta a cada ano.

Moradia digna é um direito constitucional, basta fazer uma pesquisa rápida que irá encontrar. Não precisa de muito esforço. Mas a população mais pobre não tem esse direito garantido. Não há abrigos o suficiente, não há aluguéis sociais o suficiente, o que faz com que essa população ocupe lugares inapropriados. Ninguém constrói em morros e encostas porque quer, mas por necessidade. 

O Estado tem conhecimento do perigo que essas construções podem causar, mas só “agem” mediante um acontecimento catastrófico e, na maioria das vezes, culpabiliza a população. Como se no meio desse caos, ele (o Estado) não promovesse a fome, não empurrasse a população para a criminalidade, não matasse com “bala perdida”. 

Todas essas coisas estão interligadas. O objetivo segue sendo o mesmo, assim como o alvo.

Foto: PEDRO DE PAULA/CÓDIGO19/ Estadão

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