Cria: a estética de favelados

Leitura: 2 min
Foto: Reprodução/Instagram

Anos 2000, um shorts preto com alguns detalhes brancos eram febre nas comunidades do Rio de Janeiro. Lembrou qual é a peça que estou me referindo? Os shorts da marca Bad Boy, recentemente, estão dando o que falar.

Em janeiro deste ano, Aline Maia, que é professora, coreógrafa e dançarina, publicou em suas redes sociais um vídeo que acabou viralizando. Nas imagens que representam o que foi o Rio de Janeiro nos anos 2000, vemos Aline e Juliete rebolar ao som do funk “Montagem Guerreira”, da cantora e compositora Tati Quebra Barraco, e usando o tão famoso shorts Bad Boy.

No entanto, esses shorts, que fizeram parte do guarda-roupa de muitos cariocas, eram parte de uma estética específica: a favelada. É inegável que a marca Bad Boy esteve muito presente nos guarda-roupas dos cariocas favelados e isso não foi um problema, até agora.

Para comemorar os seus 29 anos, a cantora Anitta solicitou um conjunto Bad Boy ao estilista Jeanderson Martins, da marca brasileira Piña. Abacaxi, como é conhecido, pediu autorização para a própria marca para fazer uma coleção completa e, após 22 anos da marca ter caído no esquecimento, retornou com tudo.

As vestimentas que Aline e Juliete usaram no vídeo foram produzidas por Jeanderson, que tem como símbolo registrado celebrar a cultura e estética carioca dos anos 2000. Enquanto duas dançarinas estavam vestindo a marca Bad Boy feita por Abacaxi, a permissão para continuar produzindo as peças foi mantida.

No entanto, quando Anitta passa a utilizar essa estética, a marca solicita ao estilista que pare de produzir suas peças (mesmo havendo autorizado anteriormente), pois irão retornar com a produção. Durante o tempo em que a marca estava circulando nas comunidades, não houve interesse por parte da Bad Boy em retomar com as produções, mas como é a Anitta que está utilizando, vale o investimento. 

Jeanderson levou quase um ano para reviver o conjunto. No entanto, a estética favelada só é vista, só é moda, quando a Zona Sul passa a utilizar. Não estou questionando o fato de a Anitta ter usado, mas, sim, o fato de como a favela cria moda; no entanto, apenas é aceita quando aderida pela alta classe.

As unhas longas e chamativas também fazem parte da estética favelada, os óculos “juliet”, camisa de time etc. E tudo isso tem sido cada vez mais usado pelos “playboys”. Não significa que eles não devam usar, mas, sim, que quanto mais as pessoas que possuem condições financeiras se apropriam dessa estética, da nossa estética, o acesso a esses produtos ficam cada vez mais caros.

Ou você acha mesmo que toda pessoa de favela pode e consegue comprar uma roupa “original”? Quando a marca Bad Boy proíbe o Abacaxi de continuar com suas produções, está dizendo, implicitamente, quem pode usar. E, com certeza, não é o favelado.      

Tags
Compartilhe

Leia também

O site da Coluna de Terça utiliza cookies e tecnologias semelhantes para ajudar a oferecer uma experiência de uso mais rica e interessante.