Corpos descartáveis

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Foto: Quiprocó Filmes

Nesta semana, a chacina da Baixada Fluminense completou 17 anos. No dia 31 de março de 2005, por volta de seis e meia da tarde, um grupo de policiais decidiu se reunir em um bar no centro de Nova Iguaçu. Por causa do aumento da fiscalização de suas condutas, os policiais ficaram revoltados e resolveram mostrar o descontentamento atirando em quem estivesse na frente.

Mas a ação não ficou apenas no centro de Nova Iguaçu. Eles decidiram ir para a cidade vizinha, Queimados, para continuar com a matança. Após 17 anos, dos 11 policiais que foram denunciados pelo crime, apenas cinco foram condenados. 

Passados 17 anos do ocorrido, a rotina de violência policial não mudou, na verdade, piorou. De acordo com Fórum Grita Baixada, houve um aumento nos casos de mortes causadas por policiais nas cidades de São João do Meriti, Belford Roxo, Japeri e Caxias.

A polícia exerce vários papéis dentro da sociedade, entre eles, o de proteger o cidadão. Mas qual cidadão? Porque essa proteção não está sendo aplicada para quem mora na periferia, para quem mora em favela, para quem é preto. 

Segundo o relatório Estado dos Direitos Humanos no Mundo, divulgado em 2015 pela Anistia Internacional, a polícia brasileira, na época, liderava o número de homicídios no mundo. Esse relatório nos mostra que, mesmo após 10 anos da chacina na Baixada Fluminense, o índice de violência policial não havia melhorado (e não melhorou até hoje).      

Conforme o relatório da Anistia, 220 casos estavam sendo acompanhados desde 2011. No entanto, até a publicação do relatório em 2015, 183 investigações ainda não tinham sido concluídas. Isso mostra como há uma grande impunidade na maioria dos casos.

Essa violência policial não é algo que se restringe à Baixada Fluminense. Além do mais, a estratégia policial para abordar a periferia não mudou em nada. Vamos refrescar um pouco a memória? No ano passado, mesmo com a resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) em que operações não poderiam ser realizadas durante a pandemia, 25 pessoas foram assassinadas pela Polícia Civil em uma operação na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. 

“Bandido bom é bandido morto”. Toda pessoa assassinada é bandido? Foram apenas casos isolados? Estando de folga ou em serviço, é nítido que alguns (talvez vários) policiais se sentem à vontade em executar uma pessoa simplesmente por ser pobre, ou preta, ou os dois. 

No fim das contas, são apenas casos que entram para as estatísticas, porque não são esses os corpos que devem ser protegidos. Os corpos pretos e pobres são objetos descartáveis que podem ser jogados em uma vala (literalmente), afinal, esse não é o povo que deve ser protegido. Seguimos com uma polícia militarizada, assassina e com um único objetivo: reprimir a população preta e pobre em benefício dos mais ricos. 

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