As buscas pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips completam onze dias nesta quarta-feira (15). Indígenas de diferentes etnias, que iniciaram as buscas por conta própria no dia do desaparecimento, 5 de junho, têm auxiliado as equipes da Polícia Federal, Exército e Marinha.
Bruno e Phillips desapareceram enquanto navegavam pelas terras indígenas do Vale do Javari, que fica no oeste do Amazonas. Esse local foi simplesmente abandonado pelo governo federal, uma vez que há um desmonte do PAE (Projeto de Assentamento Agroextrativista).
O PAE foi criado em 2011 com o objetivo de assentar 200 famílias ribeirinhas. No entanto, há apenas 53 assentadas. Além do desmonte, tem a pesca e a caça ilegal na região, que geram constantes conflitos entre pescadores e lideranças que buscam preservar as terra indígenas. Conflitos esses que possivelmente fomentaram o desaparecimento de Bruno e Phillips.
O último local visitado pela dupla fica próximo à comunidade São Rafael, onde deveria existir um assentamento agroextrativista sob responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No entanto, há apenas placas indicando que a instituição, em algum momento, se localizava ali.
Além disso, também deveria existir o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), instituição responsável pela fiscalização da pesca do peixe pirarucu e tracajá, pois são os maiores alvos da pesca ilegal.
Contudo, a realidade é outra. Não há fiscalização, não há servidores e nem investimentos. Esse desmonte, que iniciou durante o governo do Michel Temer e se intensificou no governo de Jair Bolsonaro, apenas exacerbou os confrontos entre pescadores ilegais, caçadores e os moradores.
O controle sustentável do pirarucu funcionou até 2017. E depois? Depois o Brasil ficou em 4° lugar no ranking dos países que mais matam defensores do meio ambiente e do direito à terra. Isso em 2020, quando houve 20 assassinatos de ativistas ao longo do ano, segundo a ONG Global Witness.
Esse é o recado que o nosso país transmite para as pessoas que ousam lutar.
