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Sexo violento e gordofobia

Tava conversando com um cara de aplicativo e tava tudo bem no jogo do flerte até ele me dizer que eu tinha cara de quem gostava de sexo muito forte, dando a entender que era sexo violento.

A violência no sexo é um estigma enorme quando a gente é gorda e tem muito mais a ver com o desejo do outro do que o nosso. O corpo gordo oscila entre a invisibilização e a hiperssexualização, ou seja, ou somos tão enojáveis e desprezíveis que não somos dignas de sermos comidas ou só somos feitas pra isso.

Há muitos preconceitos bizarros em relação ao nosso corpo, sempre nessa perspectiva de hiperssexualização que beira o freak show e coloca os corpos gordos (assim como os corpos negros) como algo muito diferente e exótico, e nunca como igual. Teve uma época na minha vida que eu ouvia muito dos caras, “e aí, faz anal?”, no aplicativo, do nada, só pelo tamanho da minha bunda. Um me perguntou se eu ficava excitada de sentir o fio dental do biquiní no meu cy também. Se você abrir qualquer vídeo de mulher gorda em site de pornô vai encontrar comentários como “boquete de gorda é o melhor”, como se a gente tivesse se esforçado tanto pra compensar ser gorda que tinha até ficado profissional no boquete, melhor do que as outras. Essas coisas têm mais a ver com o desejo do outro e com a forma como o outro me vê do que com o que eu desejo.

Mas sabe por que isso acontece? Porque como a gente normalmente é muito levada a acreditar que somos difíceis de ser amadas, e ainda mais sermos comidas, a gente acaba aceitando um monte de coisa. Quanta coisa a que me submeti no sexo achando que ia ser aceita, que ia ser sequer considerada como ser humano, como possibilidade afetiva. Me arrependo amargamente, porque dessa maneira foi que sofri várias violências no sexo ao longo da minha vida, por pessoas – homens cis hétero, claro, sempre eles – que acreditavam que eu aguentaria mais e assim me agrediam, e eu aguentava, muitas vezes por achar que era tudo o que eu devia fazer. Eu não achava que o meu prazer importava, eu transava voltada pra agradar o outro. Me descobrir sexualmente era na verdade um aperfeiçoamento de habilidades para conseguir ser a melhor na cama, só que não para mim, e sim para o outro; já que quase ninguém me considerava para um relacionamento ou muito menos me via como pessoa, pelo menos na cama eu ia ser melhor e ia desmontar todos eles, pensava. E continuava sendo violentada no meu corpo e nos meus desejos, e ainda sem ser digna de afetos.

Então cês vão me desculpar, mas fazer suposições sobre o que eu gosto no sexo de acordo com o formato do meu corpo é gordofobia sim e eu nem devia ter que explicar isso.

Entendam: meu corpo, definitivamente, não veio ao mundo para te entreter e matar a sua curiosidade. Muito menos para satisfazer as suas vontades.

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