A mercadorização do prazer

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Mercadorização: ato ou efeito de mercadorizar, de tornar (algo) em mercadoria, em objeto de compra ou venda.

Quis começar esse texto com essa definição do que é mercadorização pra ver se eu conseguia entender um pouco as raízes desta questão. Quando foi que o prazer deixou de ser algo inerente ao ser humano e passou a ser somente um produto a ser comprado?

Acho que tudo isso tem origem na culpa que sentimos em relação ao prazer. Seja se fomos criados em ambientes religiosos ou conservadores, seja no falso progressismo misógino em que a maioria de nós está inserido, a realidade é que sempre houve muita culpa relacionada ao prazer, principalmente quando falamos deste estranho, indesejado, objetificado e repleto de restrições ponto de vista que é ser mulher. É 2022 e a gente ainda não sabe gozar, e a maioria de nós, inclusive, sequer imagina ter esse direito, porque dança conforme uma música falocêntrica tocada há anos tradicionalmente incutida nas nossas relações heteronormativas. Será que a culpabilização do prazer, essa coisa do prazer ser visto como depravado, errado e doentio começou quando a primeira mulher ou o primeiro coroinha gozaram? RISOS

Mas por que será que só podemos aprender e ter contato com o nosso prazer se o misturarmos à algum tipo de prática espiritual ou religião? É quase como se tivéssemos que nos desculpar por estar gozando ou querendo gozar. É como se só tivéssemos que ter limites quanto ao que sentimos e queremos e só pudéssemos querer sexo e prazer numa quantidade muito irrisória, que é pra não parecer DEPRAVADO. Porque querer gozar tanto é errado, nesse mundo e nessa sociedade que ainda vê o prazer como algo superficial, vazio e de caráter escapatório, quando deveria vê-lo como caminho de descoberta de si, de cura e tratamento. Não é também sobre medicalizar o prazer: mas sobre entender o potencial desde contato conosco, SEM CULPA, sabe?

É fato que o tantra, originário do hinduísmo, abrange uma gama enorme de possibilidades sexuais dentro de um caminho espiritual e de autoconhecimento como forma de crescimento relacional consigo mesmo e com o universo,

MAS PORRA

TEM QUE SER VENDIDO A DOIS MIL REAIS EM EVENTOS E GRUPOS FECHADOS LIDERADOS POR BRANCOS RICOS DO LEBLON SEMPRE?

Quer dizer, que culpa é essa que faz com que a gente não se permita gozar em conjunto com amigas numa tarde de sábado, ou que faz com que a gente evite ao máximo ao longo de toda a nossa vida sequer tocar no assunto do próprio prazer em grupo, mas que permite gozar sempre em rodas de autoconhecimento e grupos de tantra liderados por homens brancos escrotos que se dizem terapeutas tântricos e salvadores dessa grande pátria que deveria ser o nosso prazer, pagando ingressos a dois pau pra se sentir menos culpado?

AH MERMÃO, NUM METE ESSA NÃO

Eu tô aí há uns bons anos já falando desse prazer que não é desculpa e que faz parte do que a gente é porque vivo na pele tudo que essa real JORNADA GRATUITA me proporcionou. Se eu tô viva hoje, sem dúvida, é porque sempre gozei de graça e sem culpa. Parem de cobrar ingresso pra gozar, parem de culpar o prazer pela falta de caráter de vocês: ele não tem nada a ver com isso. Gozar é livre, e o prazer também. Todo mundo devia poder falar disso sem se sentir mal ou doente, e todo mundo tem o direito de gozar e descobrir seu próprio prazer, sozinho ou em grupo, sem ter que pagar uma baba pra isso!

No fim das contas tudo vira produto, mercado e caôzão.

AQUI NÃO, MERMÃO

NUM SE METE COM MEU PRAZER NÃO

Pro inferno com seus tantra branco, limpo e higienista, viu?

Vamo gozar, gente, que é o melhor que a gente faz. E sabe o que é melhor ainda? É DE GRAÇA!

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