A fúria dos portugueses é reflexo – e o fracasso – da educação formal

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PORTUGAL - PORQUÊ TANTA RAIVA?

Hoje à tarde, desci com meus três cachorros, numa rara pausa de trabalho, para levá-los ao passeio.

Precisam ir. Por vezes, os levo antes mesmo de fazer meu almoço. Cuido muito deles. E um deles, o Gold, caçula do trio, quase foi sacrificado pela dona, que não soube lidar com um cocker spaniel inglês, fofo toda vida.

Saí de casa e o Gold saiu da minha mão. Seguiu um jovem, magro, que estava no meu prédio, e foi latindo atrás dele. Eu chamei Gold de volta, pus na coleira, e saí com eles. Na porta da rua, o jovem voltou, e gritou comigo.

Eu, dando conta dos cachorros, olhei pra ele, e pensei mil coisas. De todos os portugueses que gritaram comigo, da violência histórica desse povo, e esse jovem, talvez com uns 18 anos, estava muito bravo e desequilibrado comigo, que tenho já uns 30 anos mais que ele.

Já pensei em reagir de diversas formas aos portugueses. Mas dessa vez, eu fiz algo diferente.

Eu travei o sistema do jovem, quando, muito calmo, perguntei:

“Porquê você grita? Eu percebi sua indignação. Só não percebi porquê grita. Qual a necessidade deste grito?”

E ele me olhou, assustado.

Portugueses gritam. Uns com os outros. São estúpidos, cruéis, violentos verbalmente, cínicos, implacáveis, desprezíveis, uns com os outros. Eu já presenciei MUITAS brigas entre eles, e as raras ocasiões em que eles gritaram comigo, eu os fiz calar.

Mas eu percebi que é uma CULTURA.

Os portugueses podem negar. Mas eu comecei a acompanhar as violências e bullying nas escolas primárias de Portugal, e como os professores são violentos em sala, e associei isto ao que os portugueses fazem na vida adulta. É óbvio. Eles crescem aprendendo que GRITAR é natural para quem tem autoridade ou quem se comunica. Crianças, vítimas de violências de professores, vão reproduzir a violência como prática social justificada, pois aprendida em sala de aula.

Portugal é violento porque a educação é violenta.

Enquanto a educação em Portugal não for transformada em bases de respeito e afeto, A SOCIEDADE PORTUGUESA vai continuar gritando, entre si, e com quem estiver no caminho. Não, não é xenofobia. É, à priori, REPRODUÇÃO DE VIOLÊNCIA. Depois, pode ser xenofobia. Mas de cara, eles gritam sem controle emocional nenhum, porque VIRAM ISSO acontecer com eles, quando crianças.

Portugueses foram e são, vítimas da violência de educadores. Crianças portuguesas, brasileiras, angolanas, continuam sendo vítimas da mesma violência. PALMATÓRIA era usada até 2007 em Portugal.

Eu travei o jovem, ao mostrar pra ele que eu estava enxergando o problema, com clareza. E ele percebeu que estava descoberto.

Todos sabem, nós da Coluna apoiamos casos de mães que tiveram filhos violentados nas escolas. E tanto, que o caso de Maria Venâncio parou nos principais jornais de Portugal e Brasil, por trabalho nosso.

Eu parei pra observar a relação dos professores com as crianças. E não são todos, mas há os professores que estragam tudo. Cada professor que grita, 25 crianças se tornarão adultos que gritam.

Meus cachorros são, como qualquer cachorro, seres sem culpa pelo mundo dos homens. Eu vou continuar tratando os bichinhos com o mesmo amor. Os humanos que se entendam. Possuem linguagem, então usem.

Falem, como humanos. Latir, é para cães.

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