Falei outro dia pra uma pessoa que a manteiga na minha casa acabava muito rápido porque eu cozinhava muito com manteiga e ela me advertiu: cuidado, hein, MANTEIGA ENGORDA.

Risos

A respostinha veio aqui na pontinha da minha língua, mas eu segurei.

Cês entenderam a preocupação? Não foi “muita gordura faz mal pro coração” ou “é ruim pro colesterol”, foi manteiga ENGORDA. Essa era a principal preocupação da pessoa. Acho que na cabeça dela isso é um traço da vida: todo mundo vive com o objetivo de um dia ser magro. Como se ser gorda fosse além de errado, impossível de gostar, de se sentir satisfeito com um corpo desses.

Essa é só mais uma das faces da gordofobia.

Agora pensa aqui comigo: Cês já pararam pra pensar que nem todo mundo tem como objetivo de vida ser magro?

De onde vem isso, né? Da ideia de sucesso, sempre atrelado à magreza. De saúde, que passa sempre longe dos nossos corpos gordos.

Mas gente, eu não posso querer ser gorda? Eu não posso gostar de ser gorda? Eu não posso ser gorda e bem-sucedida, ser amada, admirada, me olhar no espelho e me sentir uma grande gostosa? Isso não é possível? É sim, mas a sociedade quer que a gente acredite que não.

Eu nunca tive esse objetivo na minha vida, na verdade eu tinha um bem pior. Quando me fizeram, na infância, acreditar que eu deveria morrer pelo corpo que tinha, eu nunca achei que emagreceria e chegaria nesse corpo ideal. Eu queria era morrer e nascer em outro corpo. E tentei, e quis muito que isso acontecesse, desde os meus oito anos de idade. Cês tem noção do que é crescer querendo morrer? Mermã, não é fácil não. Foram anos e anos, um milhão de sessões de terapia até que eu aceitasse o meu corpo e descobrisse, completamente pasma, que nada de errado havia com ele. E que inclusive eu devia amá-lo e que isso era até um direito que eu tinha.

Fora a noção de sucesso que mudou completamente na minha vida. Sucesso pra mim hoje não é ser magro, é se amar e não depender de ninguém pra isso. Depois de uma vida toda buscando validações externas sobre mim, hoje não há nada nem ninguém que mude o que eu penso sobre esse ser incrível que ando me tornando.

Hoje eu sei que sou maravilhosa e não preciso que me digam: essa é a minha maior conquista.

Aqui estou eu: 105 quilos de pura gostosura, autonomia financeira e independência emocional que eu nunca imaginei conquistar.

E se o objetivo da sua vida ainda é ser magro, eu sinto muito e espero sinceramente que essa ideia mude em você ao longo do tempo.

Vamo se amar!