Transcrevendo Vivências: Penhasco

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Há um tempo venho questionando a minha raiva, a minha insatisfação e meus incômodos, inclusive, aqueles que me acomete apenas por ser uma travesti, preta e bissexual. Sinto que a raiva sempre esteve ao meu lado e foi a única que não me deixou sozinha desde a transição. Por isso, aprendi a abraçá-la. Assim, de algum modo, ela me fortificou; mas estou cansada de viver à base da raiva. Essa raiva não é minha. O que eu faço com ela?

A cisgeneridade tratou um pacto social para me exterminar e, bravamente, venho resistindo [até onde consegui]. Se não me matarem de modo direto, matarão de forma indireta, pois a todo instante sinto-me arrastada à beira do penhasco. Contudo, a sociedade impregnada de uma cosmovisão cristã e um falso moralismo, leva nossos corpos ao mesmo ponto. Até quando nossas vidas e nossas identidades serão tão descartáveis?

Há dias em que a raiva se confunde com a tristeza, e a tristeza com a raiva. A cada vez que erram os meus pronomes, tenho a certeza que pessoas cisgêneras não enxergam pessoas transgêneras a partir de suas identidades; enxergam e se limitam a ver aquilo que querem, e nos tratam a partir de sua concepção. Eu não sou obrigada a ser didática, não irei tatuar meus pronomes em minha testa. Vocês hão me respeitar pelo que eu sou e não pelo o que vocês presumem de mim.

Ter saúde mental é um privilégio cis! Viver com um alvo na testa e ilhada em meio a violências, medos, traumas, solidão, ódio, desrespeitos, silenciamentos e apagamentos históricos, leva-nos a sucumbir ao peso posto sobre nossas existências. Sonho em podermos ter a possibilidade de não apenas sobreviver, mas de podermos viver dignamente sendo quem somos, sem um disparo ou empurrão.

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