Quem tem direito de circular na cidade?

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O que é loucura? De acordo com Ana Carolina Dias, mestra em Psicologia Social pela UERJ, a loucura é uma outra forma de viver no mundo. No entanto, pessoas com transtornos psicológicos raramente circulam pelo mundo, ou melhor, pela cidade. Dia 18 de maio é celebrado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, e é importante falar dessa data, pois ainda hoje há instituições que acreditam que pessoas consideradas “loucas” não devem circular pela cidade.

O estigma de “doido” ainda é muito presente na nossa sociedade e isso faz com que as relações das pessoas com transtornos psíquicos se restrinjam à sua rede de apoio. Teoricamente, a cidade é para todos, mas quem é esse todos? Porque sabemos na prática o que acontece. Ou seja, o direito de ir e vir não abrange esses corpos.

Mas não é de hoje que essa exclusão acontece. No século XVIII, ocorreram uma série de mudanças sociais, econômicas e políticas. No mesmo período, há o processo de modernização do espaço físico e, com isso, o lugar da loucura se reduz a um único ambiente: o manicômio. Espaço esse que foi criado com o objetivo de garantir a “ordem” do ambiente urbano, ou seja, há uma higienização do espaço.

Sendo assim, faço o seguinte questionamento: quem pode circular na cidade? Nas palavras da psicóloga Ana Dias, “a cidade não é feita para mães, para loucos etc. Tudo é jogado para a margem.” E essa exclusão pode, inclusive, acabar agravando o estado do paciente, por isso, uma das frases que circulam nos movimentos antimanicomial é: lugar de louco não é no manicômio. 

“Porque existem outras formas de cuidar e o espaço urbano pode ser um espaço de cuidado, pode ser um espaço de se relacionar com o mundo” diz Ana. Acrescento ainda que os “loucos” também precisam circular em um espaço como qualquer outra pessoa, mas não estou aqui querendo fantasiar e/ou romantizar o assunto. 

No entanto, é necessário rever essa forma de “tratamento”, esse espaço denominado manicômio, que apenas tem servido como instrumento de higienização da cidade moderna, além de manter o poder do Estado sobre determinados corpos. E essa exclusão da sociedade não é apenas física, mas também afetiva. No fim das contas, conforme Ana Dias, “todo mundo quer afeto, mas cada um tem um jeito de pedir ou negar. Todo corpo quer afeto. Todo mundo quer ser amado”.  

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