Desordem e regresso: o descaso com os indígenas da Aldeia Maracanã

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Arquivo pessoal/ Urutau Guajajara

Na última segunda-feira (16), ocorreu um ato em frente ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE), em que indígenas da Aldeia Maracanã e pessoas que fortalecem a luta indígena, mais uma vez, foram reivindicar o território.

Mesmo sendo um ato pacífico, houve a presença de policiais para garantir que os participantes da manifestação não fechassem as ruas nem entrassem no TRE. Não é de hoje que as pessoas que vivem na Aldeia Maracanã tem lutado pela sua permanência no local.

Em 2012, a reforma urbano-paisagística ao redor do estádio do Maracanã gerou várias críticas e manifestações, quando o então governador Sérgio Cabral (PMDB) na época, concedeu o Maracanã para a iniciativa privada.

A autorização incluía a demolição do antigo Museu do Índio para que, naquele espaço, fosse criada uma área de mobilidade e circulação de pessoas durante a Copa. Na época, o terreno contava com uma área de cerca de 14 mil metros quadrados, mas, após as obras que foram feitas, o terreno diminuiu.

Na época, a desembargadora federal Maria Helena Cisne, suspendeu as liminares do tombamento do imóvel, pois não havia provas que validassem o argumento de que o prédio não tinha qualquer valor histórico. Chega a ser cômico a alegação de “o prédio não ter qualquer valor histórico” considerando que na construção funcionou o Museu do Índio entre 1910 e 1978. 

Em 2012, a “desculpa” utilizada para a demolição do prédio era para que fossem realizadas as obras para receber a Copa de 2014. Mesmo com o decreto municipal n° 20.048 em que o tombamento de qualquer prédio que tenha sido edificado até 1937, foi necessário que os habitantes da Aldeia Maracanã lutassem para ter o direito garantido de permanecer no espaço. E ainda lutam por isso.

Hoje, não há qualquer “desculpa” para que as seis famílias que hoje vivem na aldeia sejam remanejadas. Ou seja, o único objetivo para a retirada dos indígenas atualmente é por interesse financeiro. De acordo com Urutau Guajajara, “não tem nenhum motivo, não existe nada que diga: precisamos desse espaço. É apenas para entregar para a especulação imobiliária. Capital. Querem fazer shopping. Querem qualquer coisa, menos indígenas”.

Com o objetivo de pressionar os indígenas a deixarem o local, em 2012, água e luz foram cortadas; essa situação ainda permanece. Segundo Urutau, durante os preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas, em 2016, foi construída uma passarela que hoje quase não é utilizada. Para essa obra, foram gastos cerca de R $109 milhões dos cofres públicos, que liga “o nada ao lugar nenhum” disse Urutau.

A Aldeia Maracanã é território indígena. O Brasil é território indígena. Não é responsabilidade apenas dos moradores da aldeia lutar por esse espaço, mas também é nossa. Precisamos nos responsabilizar, pois somos culpados por hoje o Brasil está sendo governado por um presidente que está dando o nosso país para a iniciativa privada.

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