Dra. Joycelyn Elders e o Mês da Masturbação

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Lennox McLendon 1994 AP

“Cerca de oitenta a noventa por cento dos homens se masturba. Setenta e oitenta por cento das mulheres se masturba e o resto mente.” – Dr. Joycelyn Elders.

Quem foi essa pessoa que emitiu essa frase fantástica, né? Foi a Dra. Joycelyn Elders, médica pediatra e administradora de saúde pública, atuou como cirurgiã geral no governo Bill Clinton e foi a primeira secretária de saúde negra dos Estados Unidos. A Dra. Joycelyn foi demitida do governo Clinton em 1994 depois de defender num discurso a prática da masturbação na educação sexual escolar. E graças a ela, desde 1995, maio é considerado na maior parte do mundo, como o Mês da Masturbação.

Nascida Minnie Lee Jones, Joycelyn foi a primeira de oito filhos de um casal de fazendeiros pobres de Schaal, no Arkansas. Ela e os irmãos trabalharam junto aos pais em campos de algodão e frequentavam uma escola segregada a 20 quilômetros de casa.  Até os 16 anos, Joycelyn nunca havia visto um médico. Tornou-se médica depois de muita luta, muito estudo e principalmente, depois de ouvir o discurso de Edith Irby Jones, a primeira estudante negra da Escola de Medicina da University of Arkansas. Joycelyn começou a se interessar por educação sexual quando tratou pacientes com diabetes juvenil. Ao reconhecer os perigos da gravidez precoce em adolescentes diabéticas, começou a ensinar sobre prevenção de gravidez e a fornecer anticoncepcionais às jovens pacientes.

Hoje, aos 88 anos, Joycelyn advoga pela equalidade racial na medicina. Ela é a porta-voz da campanha “Changing the Face of Medicine” [Mudando a Cara da Medicina, em tradução livre], uma campanha que tem como objetivo aumentar a porcentagem de médicos negros nos Estados Unidos.

“Temos ensinado às pessoas que sexo é sobre procriação, mas 99,99% do sexo é sobre prazer, e já está mais do que na hora de admitir isso como um fato”. – Dra. Joycelyn Elders

Mermã, que mulher, hein!!!! Rainha! Muito à frente de seu tempo. E cá estamos nós, em 2022, ainda tentando quebrar o tabu de sequer falar sobre masturbação. Patético.

Quem me conhece sabe que eu bato na tecla da masturbação como cura justamente porque testei no meu corpo todos os efeitos da prática. A masturbação nunca deu pelo na mão, na real, ela é uma prática corporal e mental tão forte que chega a ser capaz de diminuir os sintomas da depressão. Na masturbação o corpo libera dopamina (felicidade), endorfina (analgésico natural e desestressante), oxitocina (amor e tesão <3), testosterona (melhora a resistência e a excitação) e prolactina (influencia na lactação, no humor e no sistema imunológico). Ou seja, quem será contra isso? A quem interessa que não se inclua essa prática na educação sexual escolar e doméstica?

Cês vão falar que eu tô exagerando, mas interessa a todo mundo que é beneficiado nesse mundo falocêntrico e nesse sistema patriarcal que nos cerca. Um aspecto pouco discutido e muitas vezes romantizado da masturbação é o autoconhecimento. Hoje em dia é como se o autoconhecimento tivesse virado uma desculpa pras coisas, e a gente não devia ter que ter uma desculpa pra se tocar ou pra dar prazer ao próprio corpo. É preciso tirar essa culpa do prazer. O que tem de errado nisso? Mas sim, sem dúvida, esse processo de se tocar passa, em algum momento, pelo de se autoconhecer. É só quando a gente se toca é que a gente consegue saber do que gosta, como gosta e do que quer.

Se masturbar faz parte dessa jornada de conhecer esse corpo que nos pertence e que tanto nos ensinam a odiar e ojerizar. E quanto mais a gente se ama e se conhece, mais a gente entende o que pode e o que merece. Ao que tem direito. Menos chance da gente se tornar dependente emocional, mais chance de a gente entender a independência dos afetos e dos desejos, melhor a gente entende a nossa sexualidade, muito melhor a gente transa, se cuida e se protege também. Então, assim, tem que falar de masturbação nas escolas sim! Tem que virar padrão dar vibrador de presente de natal pras mães e avós, e por mim vinha até um bullet nas cestas básicas!

Tem que parar com essa palhaçada de tabu, tem que falar de sexo abertamente, sem frescura, sem omissão: a gente tem que saber de tudo logo o mais cedo possível.

Ah, mas aí vai vir psicopedagogo falando que num pode, que vai estragar as criança. Sim, gente, há formas de dizer isso. Você não precisa mostrar um filme pornô pro seu filho de 2 anos, até porque é no pornô que a educação sexual também começa a estragar tudo, mas mais por causa de nossas bagagens. Como que a gente pode se sentir à vontade de falar de sexo, se nunca se sentiram à vontade de fazer o mesmo conosco? Ou se ainda mesmo nós não conseguimos falar do tema no geral, nem com os amigos?

O sexo não pode ser um assunto espinhoso, e cada um deveria encontrar a maneira que consegue de expor o assunto. Você pode ler textos sobre, ouvir podcasts, ver vídeos… hoje há um material infinito sobre o assunto. E talvez pensar como seria a melhor forma que você gostaria de ter ouvido falar sobre sexo.

Eu escolhi a forma de usar tudo de ruim que passei para exemplificar formas erradas de amar e de transar, e o meu contato com a masturbação desde cedo foi fundamental nisso.

Vergonha devia ser transar mal, não se conhecer, não saber do que gosta. Mas a gente leva muito tempo pra aprender isso.

Ainda é tempo de ser feliz,

É pelo prazer que a gente vai se curar e se libertar. Gozemos.

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