A escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a Acadêmicos do Grande Rio, ganhou seu primeiro título do grupo especial com o enredo “Fala, Majeté! Setes chaves de Exu”. Beija-Flor ficou em segundo lugar e a Viradouro em terceiro.
Essa vitória pode ser surpresa para alguns, no entanto, quem é sabe: nunca foi sorte, sempre foi Exu como diz Emicida. Após quatro vice-campeonatos (2006, 2007, 2010 e 2020), Grande Rio é consagrada campeã, o que faz todo sentido mesmo a escola tendo ficado em segundo lugar em alguns momentos, uma vez que Exu é sempre o primeiro, é quem traça o final.
Exu é o orixá que abre os caminhos, guardião da comunicação, é o começo, não essa imagem de demônio que nos empurram cotidianamente goela abaixo.
Como a Grande Rio ganhou com o enredo de Exu, provavelmente, durante os próximos dias, esse será o debate em algumas instituições religiosas. Que carnaval é coisa do demônio, que a imagem do diabo foi transmitida em canais abertos para desviar os fiéis, que a Igreja está em guerra etc.
A Igreja sempre esteve em guerra e não é de hoje (e não estou falando de batalha espiritual). Muitas mortes já foram feitas em nome de Deus, hoje, temos votos em nome de Deus, em nome da família e dos bons costumes. Mas o problema mais falado desta semana talvez seja a vitória da escola que teve como enredo um orixá.
Em um país que se diz laico, temos uma bancada evangélica. Mas o problema é ter Exu no carnaval. Na verdade, o problema é a cultura do povo preto. Tudo que é nosso é do demônio, mas, quando branco passa a consumir, é aceito, é cultura, é bonito. Baco Exu do Blues já disse: “Tudo que quando era preto era do demônio e depois virou branco e foi aceito, eu vou chamar de blues”. O samba, o funk, o rap, entre outros são blues.
O carnaval ainda não é visto com bons olhos porque não virou “coisa de branco”, mesmo uma parcela querendo pagar para ter uma posição de destaque no desfile e esquecendo que o maior destaque está na ponta do pé. O carnaval é uma festa do povo preto para contar a história do e para o povo preto, uma história de resistência, de sabedoria ancestral, de luta, não apenas sobre açoites e senzalas.
Deus acima de todos? Está bem, mas provavelmente o Deus que vocês tanto falam seria morto novamente. A Grande Rio não apenas encantou com os seus lindos figurinos e maquiagens como também com o conhecimento sobre Exu.
Na música “ Exú nas escolas”, a eterna e grandiosa Elza Soares já dizia: Exu te ama e ele também está com fome. E ainda acrescento: quem alimenta Exu não passa fome.
Laroyê!