Sonhar não é para todos

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Sonhar

Na última segunda-feira (11), Lázaro Ramos participou do programa Roda Viva. Dentre tantas falas impactantes do ator, diretor, dublador e escritor, uma chamou bastante atenção. Quando questionado sobre o que o Lázaro de hoje diria para o Lázaro jovem, a resposta foi simples: sonhe.

E continuou: “Parece uma coisa simples, mas não é. Durante muito tempo na minha vida, eu não sabia que podia sonhar, eu não sabia que tinha perspectiva para além da ilha [do Paty, na Bahia]”. Por que será que foi tão difícil para Lázaro Ramos sonhar?

Você tem sonhos? Desejos que pretende realizar daqui algumas semanas, meses, anos? Suponho que sim. Mas por qual motivo isso ainda não se concretizou? Talvez você esteja sem grana para trocar de carro, ou comprar um. Talvez você queira trocar de emprego, comprar uma casa, pelo menos essas são as respostas que as pessoas costumam dar.

No entanto, para um jovem negro, pobre e de periferia, o sonho é estar vivo no dia seguinte (você precisa estar vivo para sonhar, não é mesmo?). Não ser atingido por uma bala perdida (ou bala achada como costumamos dizer) já é a realização de um sonho.

Como imaginar um futuro com essa preocupação diária de permanecer vivo? Além disso, depois de acordar mais um dia, o questionamento é: o que vou comer? Vale lembrar que o Brasil voltou para o mapa da miséria. Em 2020, a pandemia deixou 19 milhões de brasileiros com fome, a maior taxa desde 2004. Enquanto isso, em 2021, o Brasil teve 11 novos bilionários incluídos no ranking global divulgado pela revista americana Forbes.

Dessa forma, como a juventude negra vai pensar em um futuro, vai sonhar, se precisa comer hoje? Se precisa pagar conta hoje? Não daqui 10, 20 ou 30 anos. E não me venha com aquelas exceções, casos de pessoas que estudaram 12 horas por dia sem luz para conseguir entrar em uma universidade.      

Essa fala do Lázaro Ramos me atravessou de tantas formas e, mais uma vez, percebi em como banalizamos diversos assuntos, como o simples fato (não tão simples) de sonhar.

”Ainda hoje há jovens que não sabem que podem sonhar, que podem ter perspectiva para além daquilo que vivenciam dentro de suas casas, seus bairros. E a gente vai perdendo a nossa juventude para… várias coisas que não são lugares para a juventude’’, diz Lázaro Ramos.

A periferia ainda é vista como um lugar de violência, de carência de falta de oportunidade. A falta de saneamento e diversos outros problemas ainda são vistos como algo banal para a sociedade. No meio dessa banalização, temos a juventude negra que se vê impossibilitada de sonhar diante da dura realidade. 

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