Coito interrompido

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Cara, a gente precisa falar sobre o porquê de em 2022 as pessoas ainda praticarem e acreditarem na eficácia do coito interrompido. Pelo amor de Deus, gente.

O que que é o coito interrompido, né? Além de ser essa expressão feia pra dedéu da língua portuguesa, o coito interrompido é aquele momento da emoção, do quem sabe faz ao vivo no sambarilove, em que a pessoa antes de gozar, tira a pir0ka correndo antes da explosão do gozo, a fim de não gozar dentro da buçanha e consequentemente do útero. Uma verdadeira loteria. Muita gente considera esse um método anticoncepcional oficial e não se protege de nenhuma outra maneira.

Daí semana passada uma famosa de 26 anos de idade descobriu que estava grávida e soltou a seguinte frase em suas redes: “O coito interrompido falhou” e eu fiquei ali, incrédula, lendo aquilo e me perguntando como é que ela ficou tão surpresa com o resultado. Além disso, a questão é ela ser famosa e dizer isso em suas redes, tipo, como se fosse normal o uso desse método. Como se sua eficácia fosse garantida. Então, teoricamente, sendo 10 anos mais nova do que eu e tendo tido muito mais acesso do que eu às informações sobre sexo, ela deveria ser mais informada do que eu, certo? Ela devia saber que a margem de erro do coito interrompido é praticamente a maior entre todos os outros métodos anticoncepcionais, correto? Só que não necessariamente.

(Só um parênteses aqui rapidinho: na real, por mim, isso num tava nem sendo considerado método anticoncepcional mais, porque eu conheço muito resultado ambulante por aí desse método. RISOS CHOROS)

Mas como pode, gente? Como pode uma mulher branca e rica não ter acesso a informações sobre sexo? Na verdade, acesso ela tem. Agora, há muitas outras questões que atravessam a educação e a vida sexual das mulheres cis hetero. Se não vivêssemos num mundo falocêntrico e hipócrita em que a sexualidade ainda é tabu, e falar de sexo ainda fosse visto como algo polêmico, talvez as coisas fossem diferentes.

O que me preocupa é a quantidade de pessoas que eu vejo por aí transando sem camisinha. Transar sem preservativo virou praticamente uma tradição dos relacionamentos monogâmicos, e eu entendo, porque também já acreditei muito nisso, como também acreditava em monogamia, mas isso fica pra outro texto. Sabe no que mais eu acreditava? Em tudo que os homi me falavam no sexo, sobre “querer me sentir melhor”, “ter mais conexão” etc., todas essas coisas que eles falam só porque querem meter sem camisinha e num tão nem aí pras consequências, afinal, quem vai tomar pílula do dia seguinte, PREP, fazer exame e morrer abortando não são eles. E isso já me fez fazer muita merda nessa vida achando que assim seria mais aceita, mais amada e quiçá, até mais respeitada. Ledo engano. RISOS CHOROS NOVAMENTE.

Na minha época de adolescente, que aconteceu dez anos antes da adolescência dessa garota, o coito interrompido já era visto como uma prática errônea e com muito pouca chance de dar certo. Mas eu falo do lugar de uma juventude privilegiada, que tinha muito diálogo, leitura e educação sexual em casa, além de ter sido educada também pela MTV dos anos 2000, que inaugurou todo um novo segmento de educação sexual e propaganda nessa época. RISOS? CHOROS?

Mas voltando ao coito interrompido…

Primeiro, assim, que o cara tem que ter um super autocontrole de conseguir não gozar dentro e tirar a tempo. Segundo, que a essa altura do campeonato, eu espero que a maioria de nós estejamos cientes de que o líquido pré-ejaculatório também pode conter espermatozoides e engravidar. Além, também, é claro, delas, que sempre parecem ser uma preocupação secundária na vida sexual das pessoas: as ISTs, infecções sexualmente transmissíveis.

Sabe, eu não devia ter que me preocupar em escrever um texto sobre isso em 2022, sinceramente. Me dá até um desânimo. Mas eu insisto, né, e tô aqui escrevendo pra ver se muda alguma coisa, nem que seja no microrredor dos meus leitores, que espalhem no boca a boca essa reflexão. (Em algum lugar começa a tocar baixinho: “sonho meu…sonho meu…vai buscar quem mora longe, sonho meu…)

Então, assim, queria lembrar que exclusividade de parceire não é prevenção, e que coito interrompido já era como método anticoncepcional e a gente precisa falar sobre isso. Fora que “esfregar” e “pincelar” também é transar sem camisinha, tá? E já dá pra passar e pegar IST, e pasmem: gozar dentro no anal também. A galera relaxa porque acha que não engravida. E vocês têm mais medo de filho do que de sífilis e HIV. Lembrando também que sexo não é só penetração. Muita informação, né?

Vou parar por aqui hoje, porque parece que vocês ainda tão muito pouco preparados pra essa conversa.

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