Desde o momento em que eu vim ao mundo, uma das maiores preocupações da minha família é que eu não fosse gorda, pois grande parte dela é gorda. Para isso todos sempre buscaram me oferecer uma alimentação extremamente rígida.
Com o passar dos anos, toda essa tensão em torno da comida, se tornou uma compulsão e obsessão. Mesmo eu sendo uma criança magra, sempre me diziam: “você tá gordinha, hein?”, o que ocasionou a minha distorção de imagem.
Na adolescência, o peso sobre o meu corpo era, na verdade, a hipersexualização. O meu corpo era o ideal, correspondia a todos os estereótipos racistas: preta, bundão, peitos médios e cintura fina.
Eu permaneci imóvel nesse lugar durante um tempo. De certa forma, era confortável: pelo menos eu era vista. A minha criança interior que nunca foi escolhida como a menina mais bonita da sala e que nunca era a paquera de ninguém, estava feliz por nós.
Mas eu era só um corpo, que facilmente era descartado ao encontrar outra mulher branca que, com certeza, iria ser levada para o cinema, apresentada aos pais e não apenas ser jogada no lugar do sigilo…
Meu corpo começou a mudar quando minha cabeça começou a pensar que eu não precisava apenas ser usada. Eu sou inteligente, gentil e mereço ser amada também.
Agora, por mais que eu tenha entendido e esteja verdadeiramente bem, mesmo não estando mais magra, o peso sobre o meu peso continua a me incomodar por ter a coragem de viver sem me preocupar com a balança ou se encaixar a padrões estéticos.