ATÉ QUE FÚRIA*

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sushil_nash

João Alberto Silveira Freitas não está mais presente. 

Foi executado brutalmente. 

Até quando eu e você seremos complacentes com esse extermino do povo negro no Brasil?

Até quando viraremos as costas pra história e pra estruturas racistas desse país? 

Ou pior: até quando transformaremos nossa fragilidade e excepcionalidade branca em fuzil?

Até quando não admitiremos que o nosso privilégio branco nos protege? Privilégio esse que escorre por um sistema legislativo, jurídico, histórico, cultural que nos recompensa na mesma rapidez que aniquila a população negra nas américas. 

A gente vai precisar muito mais do que palavras, mais do que um dia de consciência negra, mais do que uma consciência pesada branca, como diz o artista Aldri Anunciação. A gente vai precisar ocupar as ruas, organizar protestos, boicotes, fazer muito barulho. Até que a justiça vingue.

A filosofa e ativista Djamila Ribeiro diz que é preciso que pessoas brancas compreendam os mecanismos pelos quais o racismo opera já que projeto cristão-colonial que defende a tradição, a propriedade, a família, nos faz enxergar o corpo negro como violável. E, pra além de compreender, é preciso que a gente trabalhe duro pra que mais pessoas negras cheguem aos espaços de poder. Muitos foram os votos que elegeram candidates negres nessa última eleição: mulheres, frentes coletivas, LGBTQI+ e quilombolas foram algumas das candidaturas mais votadas nas grandes capitais do país. Essa luta por representatividade e participação democrática precisa se fortalecer pra driblar o carrego colonial que paira sobre o Brasil, como nomeiam Rufino e Simas. 

Um país antirracista só existira quando o povo negro preencher e tomar amplamente o poder dos cargos públicos, quando puderem ser, estar, transitar, permanecer, enriquecer. Para o historiador Ibram X. Kendi, o país antirracista é aquele em que líderes negras são eleitas, leis antirracistas são instituídas, a esfera cultural é transformada e o povo se dá conta do seu tamanho, do seu poder. 

Como escreveu Tatiana Nascimento, “Algo claro em pele escura, tanto bate ate que Fúria”* 

Texto publicado na CT 20 em novembro de 2020

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