A efemeridade dos heróis de guerra

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O ser humano é tão evoluído, mas tem uma memória tão curta… Por isso, e não só, precisa sempre criar novos heróis. Os do momento, são os personagens de guerra que surgem em versões romantizadas (impressão minha, ou são todos do sexo masculino? sendo brancos, facilita a imagem de herói que se cria, inclusive no Brasil).

A começar pelo próprio presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Seguindo pelo lutador que foi morto (por outros ucranianos) por treinar russos. Um ator nascido na Crimeia que foi defender a Ucrânia na guerra. Irmãos famosos por lutar boxe que também foram proteger sua terra. Soldado ucraniano que recita poema de amor em meio à guerra.Cantor de rock e hip hop que fez o mesmo que todos os outros anteriores. E até um garotinho de 11 anos que atravessou as fronteiras sozinho para a Eslováquia.

Uma série de figuras usadas pela mídia pra gerar comoção nos espectadores dessa guerra. E quando entra até criança na roda, o bagulho fica mais sinistro. Porque o nível do apelo sobe muito com a imagem de uma criança.

Será?

Eu me lembro de 2015, quando o mundo ficou chocado com a imagem daquela criança encontrada morta numa praia da Turquia durante a fuga migratória que partiam, naquela altura, do Oriente Médio e da África. Ficou geral chocado, mas ninguém se lembrou daquilo 15 minutos depois, ou sequer propôs entender o que estava acontecendo.

Agora, dispensam lágrimas de emoção, que surgem entre sorrisos de satisfação, a um menino visto como herói por fugir sozinho da guerra. E ok. Que bom que ele conseguiu e foi bem acolhido.

Pena que outras tantas crianças não têm oportunidade de se salvar de situações tão ruins quanto. Queria que as 35 mil crianças que foram assassinadas no Brasil  entre 2016 e 2020, pudessem ter tido a mesma chance. Queria que os meninos pretos (que são a maioria desses mortos), pudessem ter um dia como o desse menino ucraniano. Queria que os meninos de Belford Roxo, que João Pedro, que Ágatha, que o bebê na barriga de Kathlen tivessem a possibilidade de atravessar uma fronteira que os salvasse.

Queria que as lágrimas se multiplicassem e chorassem a dor das mães brasileiras que perdem todos os dias seus filhos.

Pena que a comoção aqui, não é a mesma que a de lá.

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