“Mas você não é todo mundo”

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A frase mais repetida pela minha mãe na minha infância foi tão internalizada, que agora eu faço questão de não ser confundida com certas pessoa,

2022, eu já cansei de dizer e você já cansou de ler: que ano que começou horroroso. Tudo que prevíamos que teria de ruim, foi pior. A gente se preparou pra um cenário devastador, mas tudo o que tá rolando agora exige ainda mais de nós. Porque, e isso eu não vou cansar de dizer, a grande mídia no ocidente, pratica um jornalismo de desserviço que é surreal.
Eu vi essa imagem outro dia nas redes e preciso compartilhar aqui, porque é EXATAMENTE ISSO QUE ROLA EM MOMENTOS COMO ESSE.

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E digo mais: parem de se achar ocidentais, porque nem Europa, nem Estados Unidos e, sequer, Ásia veem o Brasil como ocidente. Ocidente, pra eles, é Europa e Estados Unidos. A gente, é latino. E não entra na mesma festa, a não ser que seja pra ser serviçal.

E daí, depois de eu apanhar uma semana inteira por, nas palavras de leitores de redes sociais, “tirar foco do problema”, “passar pano pro Putin”, “descontextualizar o debate sobre a guerra”, “juntar a imprensa toda no mesmo pacote”, “dizer que a Europa esconde os casos de racismo”, “colocar o racismo acima de tudo” (pelo menos nessa, acertaram), e por aí vai, eu voltei aqui pra dizer que vocês vão ter que me engolir, porque eu tava certa sobre um monte de coisas. E, no que diz respeito à cobertura midiática, eu vou provar nesse texto.

As frases a seguir, vão ser creditadas aos seus donos (graças às deusas, não são minhas).

“Eles parecem tanto com a gente. Isso é o que faz ser tão chocante. A Ucrânia é um país europeu. Sua população assiste Netflix e tem contas no Instagram, vota em eleições livres e lê jornais sem censura. A guerra não é mais uma coisa que atinge populações empobrecidas em locais remotos. Pode acontecer com qualquer um” (Daniel Hannan, jornalista do The Telegraph).

“Não estamos falando de sírios fugindo do bombardeio, estamos falando de europeus saindo em carros parecidos com os nossos para salvar suas vidas” (Philippe Corbe, na BFM TV, canal a cabo de maior audiência na França).

“Este não é um lugar, com todo o respeito, como o Iraque ou o Afeganistão, que têm visto conflitos violentos há décadas. Esta é uma cidade relativamente civilizada, relativamente europeia, tenho que escolher as palavras cuidadosamente, uma cidade onde você não esperaria isso” (Charlie D’Agata, correspondente estadunidense da rede CBS).

“O que chama atenção, só de olhar para eles, é o jeito que eles estão vestidos. São pessoas prósperas de classe média, não são obviamente refugiados tentando fugir de áreas do Oriente Médio que ainda estão em grande estado de guerra. Não são pessoas tentando fugir de áreas do norte da África. Eles se parecem com qualquer família europeia com a qual você moraria ao lado” (Peter Dobbie, inglês e apresentador da Al Jazeera).

Dito isso, eu fico feliz por vocês continuarem aqui me infernizando, porque significa que eu ainda não me tornei essa gente com a qual vocês concordam, pra qual vocês passam pano e dão like. Espero nunca ser confundida com jornalistas como esses, porque, quando e se isso acontecer um dia, eu mesma abandono a caneta, o bloquinho e o teclado. Afinal de contas, eu não sou todo mundo.

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