Africanos se abstém de condenar invasão russa. E estão certos.

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Depois de dois dias de assembléia geral extraordinária, a ONU aprovou resolução, com 141 votos, incluindo o Brasil, que condena a invasão russa na Ucrânia.

Entretanto, 35 países se abstiveram e a maior parte deles no continente africano. Congo, Senegal, Burundi, África do Sul se abstiveram e Eritréia votou contra a resolução. Antes de condenar os diplomatas e embaixadores africanos, é preciso entender o que está em jogo.

Os argumentos são simples, concretos e diretos. O primeiro deles, é sobre os episódios de racismo observados na Ucrânia, em postos de resgate que puseram cidadãos nos trens para fora do país. Foi filmado por diversas pessoas, policiais impedindo pessoas negras de entrarem no trem, e só permitirem a entrada de pessoas brancas – ucranianas ou não. Essa segregação no resgate, enquanto se ouviam bombas e o exército russo se aproximava, é um CRIME DE GUERRA, neste caso, baseado em raça, SIMILAR AOS CRIMES DE GUERRA QUE HITLER PRATICOU.

Portanto, AUTORIDADES UCRANIANAS SE ASSEMELHAM A HITLER, mesmo vendendo uma narrativa global de vítimas indefesas e heróicas. Racismo em sua face mais crua, no leste europeu, onde ele existe, é duro, e movimentos negros são reprimidos lá.

Universitários, de diversos países africanos, gastaram muito dinheiro para garantir seus estudos, alojamento, alimentação, roupas, livros, equipamentos. Eles fomentam a economia ucraniana num setor caríssimo – a educação. Essas pessoas tiveram seus planos rasgados pela intervenção russa, e acrescento, pela irresponsabilidade ucraniana, e elas estão documentadas, legais, contribuem com impostos, são pessoas de altíssima qualificação, no MÍNIMO bilíngues, e mesmo assim, foram vítimas de um crime de guerra baseado em raça.

Este foi o principal argumento para a abstenção de diplomatas africanos. E estão certos. Nenhum país, de lugar nenhum, pode segregar pessoas pela cor da pele, religião, gênero ou classe, por motivo nenhum, em situações de urgência e resgate. Na verdade, em situação de guerra ou de paz, isso não pode ocorrer.

Mas a Ucrânia banca de vítima do autoritarismo, e todos se comovem, porque são brancos, se comovendo com brancos.

E isso nos leva ao segundo argumento.

Os diplomatas africanos dizem que o mundo não se comove quando coisas do gênero acontecem no continente africano. E acontecem. E muitas vezes, MUITAS, motivadas por grandes potências.

Os Estados Unidos estão armando e preparando militares que estão dando golpes em toda África. A França, a Bélgica, a Europa toda guerreia e espolia, rouba, viola e explora o continente, direta e indiretamente, por ouro, diamante, terra e recursos. Quando explode crise humanitária, quem ajuda os africanos? Que auxílio, que comoção, que verba, que Apple deixa de vender nos Estados Unidos pelas violações em Serra Leoa?

Os africanos são abandonados a sorte. Ao sofrimento, fome, assassinatos, prisão e morte. A ONU, o Reino Unido, a OTAN, ninguém se manifesta com a mesma intensidade, diante de violações muito maiores.

Então eles estão certos.
Um poder só respeita outro poder. E chegou a hora do norte ouvir o sul. De brancos ouvirem os negros. E a ONU parar de hipocrisia. Obama, negro, disse algo sobre o que aconteceu na Ucrânia?
Os diplomatas estão certíssimos.

E europeus, claro, são totalmente alienados desse debate. Eles não fazem uma mínima ideia do que estamos falando. Cegos. Eurocentrados.


Nós precisamos entender que as pautas raciais são pautas POLÍTICAS e IGUALMENTE IMPORTANTES, quando falamos de qualquer assunto na sociedade. É assim quando falamos de mulheres, gays e trans. Deve ser assim quando falamos do povo negro.

Meus aplausos aos diplomatas africanos.
Fight the power.

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