O que é invisível pra você?

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O comentário de uma leitora me disparou um gatilho. Ok, parece não ser nenhuma novidade, né? A gente tá o tempo todo sendo despertado pra alguma coisa. Mas o comentário dessa leitora me fez pensar sobre invisibilidade. E minha mente volto à entrevista que fizemos recentemente com os meninos do projeto SP Invisível.

Eu vou explicar melhor.

Escrevi uma notícia sobre uma criança de 9 anos que embarcou de Manaus pra Guarulhos sem ser percebida. Ele não tinha documentos e, tampouco, dinheiro. Estava sozinho. Pegou três ônibus, passou no raio-x do aeroporto, embarcou no avião. Ninguém viu.

A companhia aérea se deu conta com o avião já no ar e avisou Conselho Tutelar e Polícia. A família tinha prestado queixa pelo desaparecimento assim que viu que ele não estava em casa.

Mas a questão aqui é: quão fechados no nosso mundo nós estamos? Quanto a gente enxerga, de verdade, do outro, do que acontece ao nosso redor? Pra onde foi nossa atenção, nosso senso de espaço, nosso tato, nossa observação?

O gatilho parte daí.

A leitora diz: por quantos adultos essa criança passou e sem que ninguém percebesse sequer a existência do menino?!

A que ponto nós chegamos de “isolamento”? Quantas pessoas a gente deixou de enxergar antes de chegar nesse lance de não ver uma criança? Sim, porque a invisibilidade negra, trans, da população de rua, do pobre, do favelado, da mulher mãe solo, de idosos (acrescente aqui todas as que se lembrar), essas invisibilidades a gente já sabe que existem há tempos. Algumas, é como se sempre tivesse existido. A gente pode tentar combatê-las todos os dias. Mas elas continuam aí e está muito distante o dia que não vão mais ser uma realidade.

Mas daí a tornar invisível uma criança? A gente chegou no fundo do poço.

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