Professor da UnB coloca jornalistas da Globo News pra sambar ao vivo

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É Carnaval. E eu tô me divertindo hoje.

Fiz as unhas cedo, peguei o transporte, vim pro trabalho, tomei café com paçoquita, liguei meu PC e as TVs nos noticiários. Estou bem aqui sentada programando a rádio e ouço uma entrevista da Globo News com um professor de relações internacionais da UnB. Anota o nome do herói: JULIANO CORTINHAS.

Escrevi tudo maiúsculo mesmo, porque se alguém teve a mesma coragem que ele desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, eu desconheço.

Eu estava distraída escrevendo outro texto, quando ouvi a jornalista Leilane Neubarth dizer algo como: é a primeira grande guerra que nossa geração está acompanhando; temos que aplaudir essa “brava gente ucraniana” (que está enfrentando a guerra, ou a crise, ou fugindo, etc). Eu revirei os olhos, mas me virei pra ouvir o que ia dizer o entrevistado. E ele colocou a bancada pra sambar. Cortinhas disse, em resumo, o seguinte (não com essas palavras exatas, mas vou resumir as anotações que fiz):

“O que muda, é a cobertura dessa guerra. Ela não é a primeira.”

E ele continua: “Vimos o que aconteceu com Síria, Iraque, mas a mídia não deu a mesma cobertura. Eu estive no Bangladesh e vi cena de horror dos mais de um milhão de refugiados que foram pra lá. E ninguém destacou a bravura daquela gente. Mas agora, o loiro de olho azul está fugindo; então entra aqui a questão racial, porque os europeus se identificam com os ucranianos. Estão escolhendo qual dor deve ser acolhida. Não fizeram o mesmo com sírios, níbios”…

MEU IRMÃO! Ver a cara da bancada da Globo News foi uma cena impagável.

Eu fiquei em pé batendo palma pro homem. Sozinha na redação. E rindo. O José Roberto Burnier teve que seguir, porque a Leilane engoliu seco.

O professor disse ainda que o Ocidente precisa deixar alternativas pra Putin. Que o presidente russo deve continuar escalando, mas é preciso haver um espaço de negociação para a Rússia. Tem que haver uma pressão bem medida pra levar o russo à mesa de negociações, mas é preciso haver prudência nas sansões e na pressão.

E eu vim escrever isso, apenas por um motivo: eu estou há dias criticando a forma como a mídia brasileira está cobrindo essa guerra. Tenho falado da seletividade. E fico indignada em ver a forma como os comentaristas falam concordando com o show midiático. Eu tinha ouvido dizer, ainda, sobre o fato de um ou outro entrevistado tentar mostrar o outro lado da moeda, mas serem sufocados pelos jornalistas. Não foi o caso desse professor, que representou um pouco de tudo que venho sentindo desde que esse caos começou.

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