O que apoiar a CT ensina sobre processos de autonomia e liberdade?

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Desde que esta “Coluna de Terça” foi criada, nós sobrevivemos a partir de uma ação cidadã coletiva. Esta forma de jornalismo independente é resultado de inúmeras pessoas construindo um fundo que sustenta a produção, a editoração e a publicação toda terça, o que envolve inúmeras pessoas que são remuneradas para tanto. Eu acompanho o movimento desta coluna desde os seus primórdios, e posso afirmar: o empenho do Anderson é o de oferecer trabalho para quem não tem oportunidade ou não se identifica com as mídias tradicionais. E sinto que, a cada nova edição, mais gente vai compreendendo o que a CT quer ser no mundo.

Eu quero conversar hoje é com você, que é a pessoa que nos apoia por aqui. Estou sorrindo enquanto escrevo, num genuíno ato de agradecimento por tudo o que a sua forma de apoio tem construído. Se não fosse por você, não existiríamos. Eu quero que você receba esse abraço gigantesco, condensando todas as semanas, meses, posts, audições da rádio e presenças em lives em que você pôde estar presente. Muito obrigado! Eu hoje quero convidar você para dar um novo salto de compreensão sobre a relação que existe entre você e a Coluna de Terça. O que aconteceria se este relacionamento fosse pensado e sentido como algo que pode ser reinventado sempre, como o que pensamos sobre as nossas relações mais amorosas? Pode ser que você tenha uma vinculação mais ambivalente conosco, porque discorda de algumas coisas que escrevemos, porque gostaria que fôssemos diferente do que conseguimos e intencionamos ser.

E há várias saídas para esta frustração de não encontrar em nossas páginas o tom ou o conteúdo que você idealizava. Pode ser que você pense: “eu estou pagando”, o que traria uma visão clientelista para o processo. Compreendo que você pense assim, porque afinal somos todos programados por um sistema para nos transformarmos ora em mercadoria, ora em consumidores. Pode ser que chegue uma ideia mais pós-moderna, do tipo “a fila anda”, como quem decide ter um encontro fortuito com a revista, por um mês, e depois se cansa e vai se vincular a outras publicações. Este tipo de ação é muito século XXI, estamos mais hedonistas e individualistas do que em qualquer outro período histórico. Pode ser que você se indigne, mas queira permanecer entre nós. Pode ser que você seja o mais fiel dos leitores, e queira ficar cada vez mais. O que cada uma destas posturas fala sobre a maneira como consumimos informação no tempo dos excessos de informação, conteúdo e performances das redes sociais? Como fazer desta experiência aqui um salto de aprendizado coletivo? Tomemos aqui uma metáfora que pode nos ser útil: o conceito de educação bancária, de Paulo Freire. Ele denunciou o tipo de relação escolar em que o professor simplesmente depositava conteúdo no estudante, que era convidado a guardá-lo e reproduzi-lo acriticamente. Toda a sua obra veio transformar esta visão distorcida de educação, reafirmando que a verdadeira metamorfose na sala de aula acontecia a partir de processos autônomos. Desta forma, um estudante participava ativamente da construção daquilo que ele mesmo faria acontecer como legado. Deixava de ser, portanto, alguém que simplesmente recebia uma informação, para ser um fomentador da própria curiosidade, do próprio desejo de entender o mundo, da reinvenção do processo de ensino e aprendizagem. Eu acredito que a Coluna de Terça pode ser este espaço na vida de cada uma e um de nós. Porque pagar é, sim, uma forma de apoiar esta mídia independente, mas podemos ir muito além. Se eu percebo uma ampliação da minha visão de mundo, se eu me nutro desta perspectiva de leitura do que acontece no país e fora dele, como eu posso ser o agente da multiplicação deste alcance? Como a minha postura de apoiador pode passar a ser a de um amplificador destas vozes independentes? Ainda somos assombrados pela educação bancária. Fomos e ainda somos instruídos a apenas receber e consumir informação. Como a mídia tradicional é composta por poucas empresas gigantescas e milionárias, não nos preocupamos com sua sobrevivência, nem tampouco com a ampliação da audiência – embora também façamos divulgação gratuita para estes meios, quando compartilhamos notícias através das redes sociais, por exemplo. Aqui a coisa é diferente. Veja: a cada mês, lutamos para continuar sobrevivendo, para chamar mais gente para dentro para trabalhar conosco e para fazer acontecer a Coluna de Terça de uma forma mais pluralista, abrangente e ousada. Por isso, reitero o convite: use esta experiência com a Coluna de Terça para desaprender a ser um leitor bancário. Receba, usufrua da beleza das produções daqui, mas sinta-se instigado a usar da sua influência – ainda que você ache que é muito pequena – para ampliar o alicerce financeiro a partir do qual podemos continuar semana após semana. Busque pessoas novas para entrar no time dos apoiadores. Sugira que empresas progressistas, que podem fazer parte da sua vida de alguma maneira, estejam ao nosso lado. Se você não sabe como, basta fazer a ponte e faremos o primeiro contato. Seja parte desta expansão, construa você mesmo os andaimes que sustentarão esta obra na longevidade que ela merece ter. Nós agradecemos, e prometemos continuar a fazer o de sempre: deixar palavras novas, instigar, incomodar, deixar perguntas em aberto. Porque, como Paulo Freire sempre defendeu, a liberdade não é conquistada como um presente ou através de um apoio. Ela é uma atitude cotidiana, que sustenta ao mesmo tempo uma utopia, um presente possível e um futuro que se reedita na insistência de um sonho coletivo.

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